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Palavras, palavras
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Palavras, palavras

A Paulo Verlaine

“Tem que manter isso, viu?”, disse o interino golpista na gravação feita pelo empresário-bandido na residência palaciana. O ano que passou (e já foi tarde) foi pródigo em frases e palavras, para o bem e para o mal. Parece que todo mundo se descobriu frasista e, usando os vocábulos como aríete ou escudo, resolveu deixar a marca de suas impressões no tempo. Com as palavras, são construídos muros e pontes, casas e prisões, templos e lupanares, pois nada mais que tijolos gráficos e sonoros são. Mas, como sabem agradar ou doer. E há ainda o tal contexto, a ambiência da conversa que é sempre invocada para afirmar ou negar o que se disse. Tal como o autor da expressão acima, que jura até hoje que sua fala foi mal entendida, só que não há quem lhe dê crédito.

“Estou decepcionado, decepcionado com a política brasileira, decepcionado com muitos de vocês”, gemeu o palhaço-deputado ou o deputado-palhaço, agora tanto faz. O sujeito fez todo tipo de serviço sujo, prestou-se a apoiar o que há de pior na politicagem nacional e depois, com ar arrependido, faz o mea-culpa. Como diz o comentarista esportivo, há sinceridade nisso? Imagine, ex-nobre representante do povo, o tamanho da nossa decepção para consigo, pois, ao contrário do que você prometeu, a coisa ficou bem pior do que estava. Mas, convenhamos, talvez reclamar de quem não se esperava nada mesmo seja coisa de abestado, como você adora chamar os outros. “Este ano foi tão ruim que “Volver a los 17” nem com a Mercedes Sosa”, falou-me sério o amigo.

“Não debato com condenados por crime”, ralhou o juizeco de roça, em seus mais que demorados quinze minutos de fama, defendendo uma versão peba do Direito na qual a falta de provas não é obstáculo à prisão de alguém. Aliás, neste particular, abundaram expressões traduzidas de outras línguas que serviram de norte doutrinário a uma justiça capenga. Se antes conhecemos a “teoria do domínio do fato”, agora damos de cara com a “teoria da cegueira deliberada”, as quais só ampliaram as nossas desconfianças quanto aos reais propósitos dos julgadores, tão eivados de subjetividade. Ou seja, o velho ditado “de cabeça de juiz e bunda de neném ninguém sabe o que vem” infelizmente só se confirmou. Péssimo para quem lutou pela legalidade e por um país justo.

“Tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer a delação”, brincou o senadorzinho mineiro, já sentindo o cheiro do final da sua carreira. “Só quem pode decretar meu fim é o povo brasileiro”, afirmou o mítico líder no comício inflamado. Será? Se for para repetir o equívoco do passarinho que passou a dormir de cabeça para baixo depois que passou a andar com morcego, pode ser que este mesmo povo seja o seu algoz. Para muitos, o ano de 2017 teve como sinônimo a palavra “crise”. Mas também poderia ser “resistência”, além de “corrupção”, “impunidade” e “contradição”. O que restou destes últimos 365 dias? Talvez mais do mesmo, malandragem, resumida nas palavras de Paulo Maluf ao ver a cana na porta da sua casa: “É uma grande injustiça”. Feliz 2018!

 

 

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