Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.
Há 26 anos sou professor universitário. Todo santo dia, o batente do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará me aguarda sob as bênçãos das centenárias mangueiras benficanas (ou seriam gentilandinas?). Lá, em conjunto com meus colegas, dou aula, pesquiso e tento estender o conhecimento que produzo à comunidade em benefício desta. Agrada-me ver a transformação paulatina da inicial natureza discente em outra, comprometida com o saber e a profissão. Faz parte das minhas preocupações o perigoso caminho que a universidade pública brasileira resolveu trilhar, pavimentado com as pedras toscas de um burocratismo quantitativo, distante da sociedade e do fazer. A cada vitória, porém, os olhos marejam e a disposição volta, sempre.
Contudo, isso é outro papo. Os últimos acontecimentos põem em risco nossas instituições e tornam precário o nosso mister, só confirmando o título desta crônica. O absurdo corte de verbas para a educação de terceiro grau faz definhar o ensino, a pesquisa e a extensão, seus três pilares máximos. Ainda ressoam em nossos ouvidos, como um tapa no pé dos próprios, as recentes e disparatadas conduções coercitivas, por parte da polícia federal (sic, revisor), dos reitores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), num flagrante desrespeito ao Artigo 260 do Código de Processo Penal. O magnífico da terra de Cruz e Sousa, não suportando a desonra de ter sido preso sem provas, matou-se. Nosso judiciário (ok, revisor) tem se esmerado em ser anti-lei nestes tempos mais que sórdidos.
De outra parte, temos um executivo (?) e um legislativo (?) tão repudiados pelo povo que não ousam sair à rua para não serem abatidos a pontapés como ratazanas grávidas, aqui usando o agudo dizer de Nelson Rodrigues. O mestre do desgoverno, o tal (des)interino, toca o terror ameaçando cortar o salário dos barnabés federais enquanto gasta R$ 43 bilhões do Tesouro para comprar os bons préstimos de parlamentares venais (pleonasmo?) no afã de aprovar a maligna reforma da Previdência, esta cada vez mais difícil de passar. A emenda constitucional 95, a que congelou por 20 anos os gastos públicos, e o odioso pdv, responsável por muitos suicídios, são instrumentos que só beneficiam os rentistas. Tudo isso ocorrendo e o Camilo de braço com o índio...
O helicóptero com 450 quilos de cocaína, o diálogo com a antológica frase “com o supremo (abarca, revisor!), com tudo”, o assessor com R$ 500 mil na mala, as malas no apartamento baiano com R$ 51 milhões e seus muitos rastros, o depoimento do dono do frigorífico, etc., etc., etc. A polícia que deveria prender quem é bandido de verdade prefere ficar tirando selfie com traficante chulé. As cortes legais que deveriam estar apurando crimes de forma justa e imparcial preferem a tortuosa via da perseguição e culpabilização sem apelação. João Bosco e Aldir Blanc repudiaram o mau uso do verso de um sucesso seu como nome da operação da pf na universidade mineira, vez que a canção é um hino em prol da democracia e da igualdade. A esperança equilibrista deve continuar.
Por Romeu Duarte
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