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Eu, ser humano
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Eu, ser humano


A Carlos Lopes (Briba)


Saí da sessão do derradeiro Blade Runner (Ryan Gosling é gente ou replicante?) cheio de babalu na cabeça. Quando cheguei em casa e liguei a TV, a apresentadora, tão improvavelmente bela que parecia uma autômata, anunciou que, nos últimos dois anos, robôs, na boa, tomaram 670 mil empregos em todo o mundo. Na sequência, o jovem professor de Harvard falou que algumas profissões, tais como cirurgiões, engenheiros e professores, vão mudar mais nestes próximos 25 anos do que do século XVIII para cá. De quebra, deu a dica para quem não quiser ser ultrapassado pelas traquitanas cibernético-mecânicas: fazer coisas que elas não fazem (ainda). Tipo celebrar no altar de Vênus (valeu, Airton Monte!), tomar cana tirando gosto com buchada e torcer Ferrim. O problema é que as máquinas aprendem rápido. É, me parece que a bola (o planeta) está com elas...


O termo “robô” se origina da palavra tcheca robota, que significa trabalho forçado e surgiu da forma como o vemos hoje numa peça do dramaturgo Karel Capek, na qual um boneco ligado na tomada fazia todo tipo de serviço no lugar do homem. Lembrei-me do famoso livro de contos Eu, robô, de Isaac Asimov, em que, sob as rigorosas Leis da Robótica, os autômatos existiam para proteger os humanos. Seríamos então robôs de Deus, criados à Sua imagem e semelhança só para sofrer neste vale de lágrimas? Passei então a fazer um inventário dos robôs que conheci na vida: o pioneiro, obra de Leonardo da Vinci, a Maria da Metrópolis de Fritz Lang, o monstro de Frankenstein, a Rosie dos Jetsons, a velha lata de sardinha do Perdidos no Espaço, o Gort que fez a Terra parar, o HAL 9000 do 2001 de Kubrick, C3PO e R2-D2, o Robocop, o Exterminador do Futuro, Transformers.


Eles estão há mais tempo conosco do que a gente pensa. De bonzinhos e prestativos factotuns, transformaram-se em criaturas cruéis, insensíveis e dominadoras, começando por tirar o pão da boca de quem defende um trampo qualquer. Neste momento, passa um documentário com um robô esculpindo uma réplica perfeita do David de Michelangelo num bloco de mármore. “O pobre Buonarroti deve estar se revirando no túmulo”, pensei. Farto de tanta provocação, fui ter ao bar. Pensando ter escapado das garras automáticas, mal cheguei ao estabelecimento, deparei com duas figuras empoleiradas no balcão a debulhar o mesmo assunto: “Pois é, meu caro, o capitalismo é osso. Sendo o lucro a sua meta final, ele acaba até com o dinheiro para atingir este objetivo. Somos nós mesmos que estamos nos matando, como sempre, e não as máquinas, pobrezinhas”. Ah, vã ironia.


Comunismos à parte, há oráculos por aí que não pintam cenários tão indulgentemente róseos quando o babado é cibercultura. Stephen Hawking diz que investir em inteligência artificial é apostar as fichas no desaparecimento da raça humana. Nick Bostrom afirma que a máquina superinteligente, capaz de se aprimorar de forma contínua, será lembrada (por esta, claro) como a última invenção da humanidade. Se antes imaginávamos que essas criações ficariam encarregadas das tarefas pesadas e repetitivas, liberando-nos para o tão sonhado ócio, elas agora, além de nos darem o bilhete azul, ainda têm como plano passar-nos o velho e bom rodo por cima. Ai, ai, e tudo isso por nossa culpa, nossa máxima culpa. Mil perguntas: o que será do mundo do trabalho? Será sérgio moro (vê lá, revisor!) um robô do mal? Ou pior será esse garçom, que não trouxe a minha Claudionor?


Foto do Romeu Duarte

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