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Cultura do Adverso
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Cultura do Adverso


Alcebíades é um excelente médico, porém não se pode confiar nele. Balbina, pessoa melhor não há, o problema é aguentar a voz de taquara rachada dela. Pronto, eis um sujeito honesto, o Clístenes, o diabo é ficar sério diante daqueles seus sestros ridículos. Dalila fez muita coisa para chegar aonde chegou, inclusive armar aquele casamento de conveniências com o Demerval, o manco que não se manca. Eglantina é a bondade de Deus na Terra, talvez para compensar a sua feiura. Francelino é cem por cento, principalmente nas trapaças. Gumercinda costura muito bem, ainda mais quando é para fora. Higino é um dos caras mais bem educados que eu já vi na vida, todavia só quando está bêbado. Inocência de inocente não tem nada. O bom Joel, valha...

 

Kerginalda é uma flor, mesmo com aquela catinga que ela exala. Da Laurentina todos gostam; bem, há pessoas que acham veneno uma delícia... Malaquias, seu próprio nome já diz o que ele é. Norvinda, não fora o grande esforço feito por sua mãe, seria alguém decente. Orozimbo é um doce, não obstante aquela mania feia dele. Perseu, o falso de boas maneiras, ama loucamente a mansa Perpétua, que lhe botou uma galhada idem. Sou doido pelo Quirino, bela figura, de outra sorte com quem aprenderia este meu ofício de ladrão? Sejam felizes, Ranulfo e Rodolfo, e que a lua de mel de vocês não os tornem mais gordos do que já estão. Salomé e Sebastiana, queridas, vocês duas se merecem, afinal, o que seria do positivo sem o negativo? Trajano, és rico e, ainda assim, um liso...

 

Umbelino e Ursulina, que magnífico casal, adoro vê-los de costas, indo embora. Venâncio é um puro; no entanto, homem não é charuto, daí ele viver sendo queimado pelos outros (e com razão, diga-se de passagem). Wandergleydson, Wankson, Wildemézio, Willa, Waldeneide. Welbanúsia, seus lindos, em que lixão os cadáveres dos pais de vocês e do padre que os batizou estão? Xenofonte, Xerxes e Xisto são oxímoros: são tão legais que não prestam. Ypiranga e Ynezita são víboras em pele de ovelha. Zoroastro é gente fina, mas torce Fortaleza. Acabaram-se as letras do alfabeto. Não importa: se não há mais nomes, como diz o janot (olha aí, revisor), se ainda tem bambu, lá vai flecha: haverá sempre uma gota de fel reservada para o outro, esse inferno.

 

E assim caminhamos em nosso cotidiano, transformando maledicência em refinada obra de arte. Um mundo governado pelas conjunções e expressões adversativas, as quais articulam oposição e contraste no âmago de uma mesma oração. Mas, porém, contudo, todavia, não obstante, no entanto, se não, ainda assim, apesar disso, mesmo assim, de outra sorte, ao passo que. Além dos dicionários e das gramáticas, está tudo lá, antes, na existência. Sentir fascínio pelo adverso, por aquilo que é contrário, que se encontra ou se apresenta em objeção, que traz desgraça, que provoca infortúnio, prejudicial. O prazer em falar mal, em espicaçar, agredir, o famoso correio da má notícia. Como diria Vinícius: “E se piedade vos sobrar, Senhor, tende piedade de mim!”.
 

Por Romeu Duarte

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