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Tecnopop
Foto de Romeu Duarte
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Tecnopop


“Ora, professor, se o homem foi à Lua em 1969 com um roteiro planejado por computadores que agora passariam vergonha na frente desse seu celular hello-goodbye, imagine o que a gente não pode fazer hoje com a tecnologia”, disse-me placidamente a aluna, com um leve sorriso de desdém pelo meu atraso tecnológico. Súbito, lembrei-me do meu irmão, que nunca acreditou nessa façanha humana, creditando-a, isso sim, a um engodo criado pelos ianques para ludibriar e humilhar os russos, feito com as sobras do filme 2001 – Odisseia no Espaço do grande Stanley Kubrick. É muita imaginação, não? Enquanto a nossa UFC brilha no firmamento acadêmico com as belas notas de suas pós-graduações, reflito sobre as últimas notícias desse instigante assunto.


Leio no jornal acerca do novíssimo farol do Mucuripe e o vejo na foto ao lado do brother mais velho. Os dois parecem aqueles bandidos de HQ, um alto, o outro baixo, ambos de roupa de listras horizontais em preto e branco. Ainda bem que os seus promotores confessaram que a construção do elevado engenho foi para viabilizar o crescimento vertical de Fortaleza, notadamente o da orla. Sim, porque em tempos de GIS, GPS, telemetria e batimetria digitais, radar computadorizado e outras milongas cibernéticas fica difícil crer que faróis ainda orientem embarcações no mar. O que tem de jangadeiro e pescador por aí, além das estrelas, se valendo da bússola high-tech dos i-phones não está no gibi. De longe, todo tatuado e abandonado, o velhíssimo farol tudo observa.


E o avião-herói, o antigo Boeing 737-200 que pertenceu à Lufthansa e foi alvo de um sequestro cinematográfico na década de 1970, virou monumento. Vai se tornar parte do acervo do Museu Aeroespacial de Dornier, em Friedrichshafen, Alemanha. Menino criado na Base Aérea, doido por avião, passei a quinta e a sexta de olho no céu, em busca do Ilyushin IL-76 e do Antonov NA-124 que vieram para levar a aeronave cansada de guerra para seu último destino. Recortada, só charuto, asas e lemes, foi-se pelos ares nas barrigas dos seus irmãos para transformar-se em atração. Engraçado esse processo de uma máquina voadora tornar-se objeto de memória, valorizada além do uso para o qual foi pensada. A história, essa incansável senhora, está aí para isso mesmo.


O pensamento vagueia e vai bater no passado, numa aula do sábio Flávio Motta. Falando sobre arte e técnica para uma plateia atenta, perguntaram-lhe sobre o que tinha achado de mais tecnológico em nossa capital. Seduzido pelas marmotas da Loura, tirou um coco da sacola que levava, puxou um abridor metálico do bolso, meteu a ponta deste artefato no olho já descascado do fruto, rodou a manivela, retirou o mesocarpo, levou o coco à boca, tomou um belo gole de sua doce água e gritou: “Tecnologia! Isto é tecnologia!”. O auditório veio abaixo, a palestra acabou ali mesmo, todo mundo em alfa. Teria a tecnologia excedido a nossa humanidade, como certa vez afirmou Einstein? Fala aí, Steve Jobs: “Trocaria a minha tecnologia por uma tarde com Sócrates”.

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