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Quo vadis, Fortaleza?
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Professor do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFC, é especialista nas áreas de História da Arquitetura e do Urbanismo, Teoria de Arquitetura e Urbanismo, Projeto de Arquitetura e Urbanismo e Patrimônio Cultural Edificado. Escreve para o Vida & Arte desde 2012.

Quo vadis, Fortaleza?


Meu colega lusitano Eduardo Souto de Moura, professor da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e detentor do Pritzker, em recente entrevista, falou que tem cada vez menos prazer em projetar edifícios e espaços urbanos em razão do imediatismo, do pragmatismo e da visão rentista de quem costuma solicitar os seus serviços. Realmente, o gosto em desenhar prédio e cidade, talvez uma das mais antigas delícias já inventadas na Terra, se vê frustrado não com o realismo dos programas requeridos, mas com os fins pretendidos, nos tempos atuais, rastaqueras de morrer. Quando é a urbe o objeto a merecer intervenção, aí a coisa se torna mais complexa devido aos inúmeros desígnios, cultos e populares, que se enredam nisso de
fazer cidade.


A Prefeitura Municipal de Fortaleza tenta administrar duas formas distintas de planejamento urbano, geradas em seu próprio seio. A primeira, que chamaria de “planejando o fato consumado”, atualmente é a vitoriosa, com a aprovação do plano diretor na semana passada.

Opera no âmbito da “real politik” urbana, transformando em legal aquilo que até bem pouco tempo atrás era o contrário em nome da inovação e da desburocratização. A segunda, que denominaria de “planejando com ambição”, tem um escopo de longo prazo e de largo espectro, fundamentando-se no desejo de redesenhar a Taba de Alencar toda, ao propor a substituição de sua estrutura por outra completamente diferente. Ambas são imiscíveis, como óleo e água. Por não se tolerarem, não se integram. E agora?


É certo que, em dado momento, é necessário rever os padrões de urbanização que regem as aglomerações urbanas. As distorções e os usos anacrônicos sugerem a efetuação de ajustes, principalmente numa Loura como esta, avessa à fiscalização (ou seria a fiscalização que não cutuca a Loura?). Claro, Fortaleza é polinucleada, seu povo é virador e resiliente, mas é preciso afirmar, com base em alguma pesquisa, o porquê de se privilegiar alguns setores com indicadores urbanísticos mais generosos e outros não. Dizem horrores por aí da tal outorga onerosa e dos altos gabaritos que promove. Para mim, a relação do edifício com o chão e com seus iguais é o que conta. Se ergue-se a partir de uma alta muralha, colado aos vizinhos, gerará ruas inóspitas e calor, o inferno.


Isso sem que se fale da ampliação do número de vagas na garagem versus um sistema viário projetado para carroças, panorama ainda sem o amparo de uma eficiente rede de transporte público. De outra parte, se se pretende formalizar a informalidade de áreas que geram renda, esquece-se de colocar nesse mesmo balaio a habitação sub-normal e as áreas de interesse cultural (bens imóveis isolados, sítios históricos e paisagens culturais). As Zeis, coitadas, continuam sem regulamentação, enquanto que o patrimônio construído pelo homem e/ou pela natureza se vê à mercê das investidas do grande capital e das blitzkriegs xiita-fundamentalistas. Neste passo célere, como diria Fellini, la nave va, só que ninguém sabe para onde. Para que destino caminhas, Fortaleza querida?

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