Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)
Ricardo Moura é jornalista, doutor em Sociologia e pesquisador do Laboratório da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV/UFC)
Dizer que falta inteligência no combate ao crime organizado é uma queixa recorrente em momentos de crise na segurança pública. No entanto, é preciso compreender que a atividade de inteligência não é uma panaceia e nem vai resolver todos os problemas. Inteligência de Segurança Pública (ISP) nada mais é que a coleta sistemática de dados que depois virão a se tornar conhecimento, tendo em vista identificar, acompanhar e avaliar ameaças reais ou potenciais.
O general chinês Sun Tzu, referência em estratégia militar, já alertava há milhares de anos sobre a importância de conhecer bem o adversário antes mesmo de que a guerra fosse declarada. Nascida como uma arte guerreira, a inteligência migrou da esfera militar para a sociedade civil, dentre outros motivos, pelo temor que os governos da época tinham dos movimentos revolucionários e anarquistas.
No Ceará, o governo Nogueira Acioly já contava com seus “secretas”, nome dado aos policiais à paisana que faziam a segurança do governador e que, volta e meia, agrediam desafetos políticos.Durante e depois da Ditadura Civil-Militar, a tarefa de coletar dados e produzir informações coube primordialmente à Polícia Militar, por meio do Serviço Reservado. Embora a Polícia Civil possuísse um departamento especializado em inteligência, a capilaridade da PM permite maior desenvoltura e capacidade agentiva.
Em minha tese sobre o assunto, identifiquei que as delegacias que possuíam melhores resultados na resolução de crimes eram justamente as que os delegados contavam com uma boa relação com os reservados.
A criação da Coordenadoria de Inteligência (Coin) foi uma tentativa de unificar o trabalho das polícias Civil e Militar em um único órgão. No entanto, ainda vemos muita disputa pela posse da informação e pouco trabalho integrado. Além disso, muito do que se convenciona chamar de “inteligência” nada mais é que uma investigação criminal bem-feita.
Por definição, inteligência tem muito a ver com previsão, diagnóstico e prevenção. Tudo isso é muito diferente do que vemos na prática, quando o mais usual é que as decisões governamentais sejam tomadas somente quando a situação se agrava a um ponto beirando o insuportável, como acontece agora.Prova disso é o anúncio da criação de um Centro Regional de Inteligência Integrado no Ceará quando o Brasil já conta com um Subsistema de Inteligência de Segurança Pública (SISP) que nunca foi implementado plenamente.,
Criado pelo decreto federal nº 3.695, de 21 de dezembro de 2000, a finalidade do SISP é “coordenar e integrar as atividades de inteligência de segurança pública em todo o País, bem como suprir os governos federal e estaduais de informações que subsidiem a tomada de decisões neste campo”.Agir somente depois do fato consumado é a antítese da inteligência, mas essa é uma lição que nunca aprendemos.
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