Logo O POVO+
O Tiro (Voto) que não sai pela Culatra
Foto de Raymundo Netto
clique para exibir bio do colunista

Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

O Tiro (Voto) que não sai pela Culatra


Interrompemos a nossa programação literária normal para o pronunciamento de um autor, eleitor e trabalhador brasileiro: Minhas amigas e meus amigos, no momento dramático, atípico e histórico pelo qual passamos, como seria possível debruçar-me sobre a ficção quando a realidade me parece ainda mais fantástica e
absurdamente irreal?

 

Votei pela primeira vez aos 21 anos. Até lá, não poderia votar, não porque não o quisesse, mas por que em meu país, em 1964, houve um golpe de estado. Depois veio a ditadura civil (a elite econômica, os poderosos que enriquecerem com o regime implantado no País) e militar, a repressão, as perseguições aos intelectuais, aos artistas, aos veículos de comunicação de oposição (os favoráveis ao golpe, ao contrário, enriqueceram), aos movimentos sociais, a censura, a perda dos direitos civis, a tortura, os assassinatos, o medo, o terror e, por fim, o silêncio.

 

Algumas pessoas, covardemente, decidiram cuidar da sua própria vida e pronto. Não reclamariam, deixariam que o governo fizesse o que bem entendesse. Outros sabiam de familiares e amigos desaparecidos - alguns até hoje - ou torturados com elevado nível de barbaridade.

 

Hoje, 30 anos depois, vejo "emergir o monstro da lagoa". O pior, o mais desqualificado e despreparado candidato ao maior posto executivo do País fala claramente, sem vergonhas ou temor, de ser a favor da tortura e do assassinato de seres humanos. De não aceitar a democracia e não respeitar voto. De ser contra os direitos trabalhistas e desfavorável a trabalhadores, principalmente as mulheres, privilegiando empresários inescrupulosos. Que prega um discurso repleto de violência, de homofobia, de racismo, de misoginia e preconceito, enquanto é associado à corrupção (afirma ter recebido propina por meio de seu partido, assume a sonegação de impostos) e, misteriosamente, agora, nos aparece em uma campanha milionária de disparos em massa bancada por empresas divulgadoras de Fake News. E com que objetivo? Por amor a esse país? E afinal, a quem esse candidato fascista, que nada fala de educação e de cultura, realmente representa? Os nomes que se aliam ao dele são os de pessoas tão oportunistas e de caráter tão duvidoso quanto o próprio, também radicais, extremistas e autoritários. Pergunto: será que teremos que passar por isso de novo e desta vez entregando a nossa democracia e o nosso país de bandeja?

 

Não defendo o PT. Sou contra a ditadura, seja de direita ou de esquerda. Não sou ligado a nenhum partido, mas como artista, brasileiro e trabalhador, sou favorável à democracia, à ampla liberdade de expressão, à pluralidade de ideias, à diversidade, à maior igualdade social, à justiça e aos direitos humanos, à solidariedade, à educação acima de tudo, à cultura para união dos povos e à disseminação do amor, da gentileza, da paz e da liberdade.

 

Assim, HOJE, não vejo alternativa a não ser votar em HADDAD, um democrata, independentemente de seu partido. Ex-ministro da Educação, que ali deixou um legado impressionante de aumento de orçamento, expansão e interiorização do ensino superior e ampliação do número de matrículas escolares. Daí, peço a você, leitor(a), que reflita, dispa-se de seu ódio e antipetismo. Acredite que com Haddad, esse tiro (voto) não sairá pela culatra.

 

Foto do Raymundo Netto

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?