Logo O POVO+
Se essa Rua fosse Minha...
Foto de Raymundo Netto
clique para exibir bio do colunista

Raymundo Netto é jornalista, escritor, pesquisador e produtor cultural, autor de obras premiadas, em diversos gêneros ficcionais ou não. É gerente editorial e gestor de projetos da Fundação Demócrito Rocha.

Se essa Rua fosse Minha...


Alguém já lhe disse, ou, certamente, um dia irá lhe dizer: “você não pode deixar seu emprego”, “não pode sair da sua casa, deixar seus filhos”, “não pode amar outra ou aquela pessoa”, “não pode abandonar a sua carreira”, “não pode se vestir assim ou assado ou gostar dessa cor”, “não pode dizer o que quiser”, “não pode ser diferente”, “não pode...é para o seu bem... NÃO PODE!” E se alguém que não lhe conhece dissesse, ao contrário, que VOCÊ PODE, sim, que tem direito a escolher ser e fazer o que quiser? E se você, de fato, acreditasse nisso: eu posso ser, fazer, dizer, viver como eu quiser? EU POSSO ESCOLHER! Já pensou quão poderoso você seria? “EU POSSO!”.


Entretanto, para chegar lá, terá que imprimir na mente duas certezas. A primeira: toda escolha traz consequência(s). Embora seja livre para escolher, não estará livre das consequências dessas escolhas. O pacote é completo: escolha %2b consequência(s). No instante do escolher, e isso pode levar segundos a anos – o tempo e a idade pouco importam –, avalie bem o que vem a reboque, pois isso FAZ PARTE da sua escolha. Não sabia disso? Então, provavelmente, escolheu da forma errada e logo cairá em arrependimento, com mágoas, curtindo a angústia de um abandonado, culpando o mundo pelo seu fracasso e sofrimento.


A questão é: você sabe o que quer e até como quer. No mínimo, tem a certeza do que não quer. Não aguenta mais viver do jeito que está, fazer as mesmas coisas, anular-se. Tudo lhe parece sem sentido. Não há emoção, nem paixões. No entanto, cabe a pergunta: está preparado para essa travessia de mudança? Lembre-se de que algumas delas não têm volta. E mesmo quando parece ser possível retornar, na verdade, volta-se a outro lugar, apenas semelhante, um reflexo incômodo e distorcido da realidade pretérita.


Você que está sentado aí, na cômoda cadeira da cozinha, na sala de espera do dentista, naquela hora de escape do trabalho, no conforto da rotina que permite que sufoque – nem sabe o porquê – as suas aspirações mais íntimas e inconfessáveis, teria coragem de se levantar agora, neste momento, e mudar toda a sua vida? Sair da casa dos pais e morar sozinho(a), abrir mão de bens e se mandar para outro país, pedir separação àquela pessoa quase estranha que vive com você, deixar a faculdade ou o emprego tedioso (mas de salário certo), tentar outra profissão – talvez aquela que lhe parece financeiramente inviável, mas que o(a) provoca –, correr atrás daquela(e) mulher/homem que deixou escapar e cuja saudade o(a) tortura...? Você enfrentaria o medo – um de nossos piores inimigos – e os riscos dessa escolha, mesmo sabendo que isso pode transformar radicalmente o seu destino? Que as pessoas ao seu lado, principalmente as mais próximas, sofrerão? Que poucas o(a) compreenderão e continuarão com você? Sim, pois existe uma fôrma, uma espécie de regulamento social tácito a determinar a normalidade, aquilo que lhe faz ser aceitável no mundo. E essa FÔRMA sobrevive porque promete – muitas vezes não cumpre – segurança, conforto, inclusão e a esperança. Aliás, essa é uma de suas primeiras escolhas: ser do jeito que as pessoas querem ou ser do jeito que você gostaria e quer ser. Daí a segunda certeza é a de que o seu poder não lhe promete ou garante nada, muito menos a felicidade. O caminho escolhido, certamente, será mais difícil, doloroso (mas uma dor que dói diferente), trilhado em quase – ou na absoluta – solidão, mas será O SEU CAMINHO, o grande encontro de você com o seu eu, proporcionando-lhe a segurança apenas de quem você é, do tanto que pode fazer e realizar, ampliando os seus horizontes e desapegos. Esse caminho é você, que lançou às favas essa ilusória segurança, em troca do combustível que nos fez e nos faz, com a delícia das incertezas e impossibilidades, evoluídos, únicos e humanos: a nossa LIBERDADE.

Foto do Raymundo Netto

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?