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Entre a inconveniência e a suspeita

2018-01-17 01:30:00

A chegada de Fernando Segóvia à Polícia Federal começou com uma marca incômoda e prossegue com gesto inconveniente, no mínimo. Suspeito, até. Ao assumir a função, teve como credenciais a proximidade com a família Sarney, a simpatia do meio político - os ministros denunciados Eliseu Padilha e Moreira Franco, por exemplo - e proximidade com a CBF, de onde ecoam escândalos de corrupção que repercutem mundo afora.


Na segunda-feira, 15, Segóvia se reuniu com o presidente Michel Temer (MDB) fora da agenda oficial. Às escondidas. Na mesma semana em que se encerra o prazo para Temer responder a 50 perguntas feitas pela Polícia Federal.


No mínimo, o gesto é inconveniente. Abre precedente para justificada suspeita de tráfico de influência. A prova maior de que o Palácio do Planalto tem consciência de estar fazendo algo errado foi o fato de, após descoberto, o encontro ter sido incluído na agenda oficial.


(Aliás, o presidente já meteu os pés pelas mãos por causa de encontros que deveriam ser secretos. Fico me perguntando sobre outros encontros que eventualmente não tenham sido descobertos).


É natural um gestor público receber um subordinado - embora não seja tão banal que isso ocorra de forma secreta. Do mesmo modo como são compreensíveis as pressões políticas em torno de cargos. E como está dentro das prerrogativas do presidente trocar o comando da PF.


O incomum é que o presidente e a cúpula do governo sejam investigados. Isso distorce todo o processo e cria percepção naturalmente suspeita. As pressões por cargos são naturais, mas quando político quer interferir no comando da Polícia Federal, coisa boa não é. Ou quer se proteger ou perseguir adversário. Ou ambos.


Pois bem. Quando Temer se reúne, secretamente, com um dirigente da Polícia Federal mais político do que seria desejável - justamente em semana tão crucial -, é impossível não imaginar que o tema das perguntas ao presidente tenha sido tratado. Seria necessário nível de espírito público que governo nenhum demonstra, que dirá esse aí.


Saiu-se com uma justificativa de que foi tratada a criação de uma Polícia Federal fardada. O assunto pode até ter estado na pauta, mas imaginar que se restringiu a ele é inverossímil.


A Polícia Federal teve papel muito importante na forma como a política brasileira transcorreu nos últimos quatro anos. A troca de comando ocorrida no fim do ano passado era natural. Mas, se tornou inconveniente a saída de um dos cabeças da Lava Jato por decisão de um presidente investigado e denunciado.


No momento em que conversas obscuras são travadas entre Temer e o gestor ungido por políticos para dirigir a PF, em momento tão delicado, o problema se agrava.


Tudo isso seria normal, não fosse o fato de o governo ter todos seus principais integrantes sob suspeita. Essa é a mão de todas as anormalidades. O resto é consequência.


CID E A CONSTRUÇÃO DA PLATAFORMA DE CIRO

Dentro do projeto nacional dos Ferreira Gomes, o ex-governador Cid Gomes (PDT) publicou artigo no site da revista Carta Capital no qual, essencialmente, defende as bases da pré-canditadura presidencial de Ciro Gomes (PDT).

O texto trata de situar Cid Gomes no plano nacional. O espaço de artigos é comumente ocupado por Ciro, na busca de dialogar com segmentos de centro-esquerda, sobretudo no Sudeste. Cid relembra a passagem pelo Ministério da Educação e, sobretudo, o embate com Eduardo Cunha (MDB-RJ), que lhe custou o cargo. Ressalta a posterior prisão de Cunha, “o mesmo que enfrentei em 2015”, conforme enfatiza.


Além disso, ataca as atuais forças governistas, de forma dura. “(...) ajuntamento de corruptos se prepara para as eleições de 2018. Eles não vão querer largar o osso e usarão das piores táticas para fraudar ou impedir um pleito justo”.


Critica ainda a postura do governo Dilma Rousseff (PT) no episódio com Cunha. “Infelizmente, naquele momento, o governo brasileiro, eleito pela maioria do povo, sucumbiu à chantagem”. Curiosdamente, ele oferece releitura de sua saída do governo, já que, à época, divulgou-se que ele entregou o cargo. Obviamente, ele foi demitido.


A partir daí, ele defende a plataforma do irmão para presidente, a partir dos pilares: 1) Resolver o endividamento das empresas; 2) sanear as finanças públicas para o governo voltar a investir; 3) fortalecer a indústria nacional.


Mais que o conteúdo, o texto é um novo passo da família, articulado, em sua última chance de se firmar como alternativa de poder no âmbito nacional.

 

Érico Firmo

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