O que 2017 mudou na política do Ceará
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O que 2017 mudou na política do Ceará

2017-12-30 01:30:00

Nesta última coluna do ano, um balanço de como 2017 mexeu na política cearense. O olhar de conjunto revela: muita, mas muita coisa mesmo está diferente. Tanta coisa aconteceu em 12 meses que nem parece que foi este ano. Há um ano, por exemplo, Teori Zavascki estava vivo. Joesley Batista não tinha gravado Michel Temer (PMDB) nem Aécio Neves (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ainda não tinha sido condenado por Sérgio Moro. Os movimentos nacionais mexeram muito com o Ceará e seus principais líderes. mas, comecemos pela esfera estritamente local.


CAMILO SE FIRMA


Talvez o grande fato político de 2017 tenha sido o fortalecimento de Camilo Santana. Sobretudo na política. Ele ensaiou alguns movimentos próprios e assumiu protagonismo nas articulações. Até então, ele vinha muito a reboque. Em 2016, por exemplo, na eleição da Capital ele ficou emparedado entre as estratégias do grupo Ferreira Gomes, as decisões do PT, sem ter como controlar nem umas nem outras. Neste ano, Camilo conseguiu desmontar e neutralizar a oposição e atrair aliados, como Tasso Jereissati (PSDB) e Eunício Oliveira (PMDB). Muita coisa ainda pode mudar, mas, hoje, é improvável um cenário no qual a reeleição do governador seja ao menos ameaçada.


Até o ano passado, a agenda de Camilo era restrita à administração de crises: saúde, seca, falta de dinheiro.Nada disso mudou de modo drástico. A saúde segue com problemas, o dinheiro ainda é escasso.

O ano chuvoso até foi o melhor de 2012 para cá, mas longe de estar confortável. Mesmo assim, o governador conseguiu estabelecer uma agenda própria.


Saíram os primeiros resultados da educação neste governo, e o Ceará se manteve como destaque nacional. Houve entrega de sistemas de abastecimento, algumas novas estruturas na saúde começaram a sair. E muita coisa na segurança: formatura de turmas de policiais, unidades integradas (Unisegs), ampliação do Raio.


A segurança é capítulo à parte. Nos dois primeiros anos, houve melhora considerável nos indicadores, que não representou correspondente benefício para a imagem de Camilo. Este ano, por sua vez, recordes negativos são sucessivamente batidos. Mas, a imagem do governador não pareceu ter perdido tanto com isso. Em parte, pelo anteparo que tem sido o secretário André Costa. Passou longe de trazer resultados, mas cumpriu papel político de para-raio.


EUNÍCIO SOBE NACIONALMENTE E SE ARRISCA NO PLANO LOCAL


Em fevereiro deste ano, Eunício se tornou presidente do Senado e, assim, mudou de status na política nacional. Já era influente no governo Temer, mas se tornou imprescindível. Um entre o punhado de pessoas sem as quais o presidente não governa. Isso fez dele o dono dos cargos federais no Ceará, conforme mostrou o repórter Carlos Mazza, no O POVO de ontem. Curiosamente, porém, a perspectiva de candidatura a governador se dissolveu, aliados dele se debandaram para o lado de governador e Eunício precisou se compor com Camilo para manter as chances de reeleição no Senado.

O movimento é ousado e arriscado. Tornou-se viável porque, se o peemedebista tem a ganhar eleitoralmente, Camilo tem muito o que se beneficiar administrativamente.


TASSO NO CENTRO DO CONFLITO TUCANO


O líder tucano se tornou protagonista da disputa nacional tucana.

Liderou o movimento pela ruptura com o governo Temer. Com a derrocada de Aécio Neves, assumiu o comando do PSDB. Foi das personagens políticas de maior relevância nacional nos últimos meses. No fim, sua posição prevaleceu e o PSDB saiu do governo. O tucano, porém, aceitou desistir da candidatura a presidente do partido. Assim, retornou ao papel de coadjuvante de luxo no tucanato nacional. No Ceará, é a perspectiva de uma eleição acirrada para Camilo. Porém, a hipótese de concorrer não é a mais provável.


ANO COMPLICADO PARA OS FERREIRA GOMES


O ano foi ruim para a família mais poderosa do Ceará. Talvez o pior desde que ascenderam na política. Único com mandato, Ivo Gomes (PDT) recorre, no cargo, de decisão da Justiça que cassou seu mandato como prefeito de Sobral.


Ciro Gomes (PDT) costura candidatura presidencial, sem grandes novidades. Em dezembro de 2016, tinha 1% na pesquisa espontânea do Datafolha e tinha pico de 6% na estimulada. Um ano depois, segue com 1% na espontânea e 7% no cenário estimulado mais próximo da pesquisa anterior.


Já sobre Cid Gomes (PDT), ontem foi divulgado parecer da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, segundo o qual as informações prestadas pelo ex-governador cearense corroboram acusações contra ele feitas pelo empresário Wesley Batista, da JBS.

Em delação premiada, Wesley disse ter feito pagamentos ao então governador cearense, como condição para o Estado repassar recursos tributários devidos à empresa. O caso foi desmembrado. Parte tramitará no Supremo Tribunal Federal (STF), parte na primeira instância. Pré-candidato a senador, Cid pode ter problemas sérios.

Adriano Nogueira

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