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Quantos projetos há em um governo

2017-11-04 01:30:00

Henrique Meirelles (PSD) disse que é pré-candidato a presidente da República. Depois da repercussão negativa, explicou que não era bem isso que queria dizer. Por sua assessoria, ele disse que o ministro da Fazenda apenas disse ter consciência de que é pré-candidato. A pergunta foi essa mesma — se ele tinha essa consciência — e ele respondeu exatamente nesse contexto. Ocorre que, se está consciente da pré-candidatura, é porque se reconhece na condição de potencial concorrente.


Mais que isso, ele analisa que há cenário fértil para alguém com o perfil dele. “O campo é favorável, sim. Favorável para o que eu chamo de um candidato reformista no sentido de alguém que toque as reformas e a modernização da economia brasileira como está ocorrendo. Não há dúvida de que hoje essa posição reformista é importante”, afirmou à Veja.


Mais que isso, ele já antevê o que acredita que será a pauta de 2018: a questão da pobreza. “A campanha será pautada na política social. Estou preparado para enfrentar esse discurso populista do PT. Diria até que estou acostumado, pois já tive embates com o PT que eram exatamente iguais quando era presidente do Banco Central no governo Lula”.


Observe-se o que ele diz: 1) Sabe que é candidato; 2) acredita que o cenário é favorável para alguém com perfil dele; 3) Já vislumbra o assunto central da campanha, e diz estar preparado para ele.


A vontade dele de se viabilizar candidato é evidente. Porém, como ele também sabe, não basta querer. Disputar a Presidência é “questão de oportunidade e destino”, Meirelles afirma. “Existem condições políticas e condições eleitorais que precisam ser analisadas”. Ele não é candidato ainda, mas quer e espera ter condições de ser.


E aí a coisa se complica. Meirelles trabalha para estar em condições de ser candidato. A informação surpreendeu e desagradou o Palácio do Planalto. O governo não quer antecipar o debate sucessório. Sabe que isso enfraquece o atual presidente, que não está lá com essas forças todas. De modo que Meirelles não é, em princípio, o candidato de Michel Temer (PMDB).


Ocorre que o maior partido da base aliada, o PSDB, também planeja ter candidato. Provavelmente Geraldo Alckmin, embora João Dória corra por fora. Também não é o candidato do presidente. Os partidos vêm em turbulência na relação e podem até romper.


De modo que dois alicerces do governo planejam candidaturas sem o presidente, cuja impopularidade é um obstáculo. O futuro da administração, desse jeito, é uma incógnita.


IMPACTO PARA AS REFORMAS

Meirelles apresenta seu perfil reformista como vantagem, mas sua fala atrapalha bastante as futuras reformas. Por dois motivos. O primeiro e maior: forças políticas que tenham seus próprios candidatos resistirão a apoiar uma proposta que é a principal plataforma eleitoral de outro postulante. A reforma deixa de ser de Temer, principalmente, e passa a ser de Meirelles. Outra questão passa a ser a própria disposição do ministro para se desgastar, por exemplo, com a mudança nas aposentadorias, em pleno ano eleitoral.

 

FALTA UM PLANO REAL

O projeto de Meirelles tenta reeditar, no governo Temer, o que foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no governo Itamar Franco. Naquela época, o presidente havia assumido após impeachment. FHC comandou uma grande mudança na economia e virou presidente.

Algumas diferenças: Itamar não era impopular como Temer. E, principalmente, não há um Plano Real no horizonte. Em 1994, havia a hiperinflação como espectro a combater. Meirelles controlou a inflação, mas não chegou a ser uma fração do que era há 23 anos. O crescimento retornou, mas ainda tímido. A projeção para 2018 é de 3%. Não é propriamente um índice chinês. Com Dilma Rousseff (PT), o País chegou a ter expansão de 3,9%. Com Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou a subir 7,6%. O atual governo, é óbvio, tem o mérito da recuperação após grave recessão. Mas dificilmente será o bastante para eleger alguém. No último ano de FHC, o PIB subiu 3,1%. O PSDB perdeu aquela eleição e Lula foi eleito.


A CHANCE GOVERNISTA

Para que tenha chance um candidato ligado ao atual governo ou à equipe econômica, precisa haver uma maciça criação de empregos. É o único drama hoje equivalente minimamente ao que foi a hiperinflação. Em caso de significativa recuperação do nível de emprego, uma candidatura como a de Meirelles poderia se beneficiar. E ele sabe disso. “O que resolve a questão social é a criação de emprego. Desemprego elevado, com 13 milhões de pessoas na rua, como o governo anterior deixou, não há política social que resolva. Então, acho que o tema da campanha vai ser por aí, independentemente de quem seja o candidato de centro ou o do PT”, disse na mesma entrevista.

O problema é que emprego é indicador que demora a se recuperar. Com crescimento do PIB a 3%, dificilmente haverá uma onda capaz de eleger presidente.

 

Érico Firmo

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