PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

O PSDB emparedado

2017-10-04 01:30:00

O PSDB se vê numa enrascada política. Está emparedado entre o projeto de chegar à Presidência da República, o atrelamento com um governo impopular e a complicação judicial de seus mais destacados expoentes.


A cada 15 minutos no governo Michel Temer (PMDB), as chances de o PSDB eleger o próximo presidente da República ficam menores. Porém, o partido não sabe como se desvencilhar. Mais que isso, setores influentes da legenda não querem largar o governo.


O principal dificultador para a saída da sigla do governo é justamente a enrascada judicial em que está o senador Aécio Neves (PSDB). Para proteger o mineiro, o apoio governamental, a interlocução no Judiciário e a sustentação da base aliada são determinantes. Não fosse isso, talvez o tucano estivesse hoje preso.


O partido já não sabia como sair dignamente do governo Temer — e muita gente no partido nem queria isso. Também não pode e não quer largar Aécio. Assim, a pretensão presidencial fica mais distante. É muito desgaste somado para pouca competitividade dos candidatos.


Na pesquisa Datafolha divulgada neste fim de semana, os pré-candidatos do PSDB não passam de 10% das intenções de voto em nenhum cenário. Não aparecem nem entre os três primeiros em simulação nenhuma. Na pesquisa espontânea, o tucano que aparece, João Dória, tem 1%. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 18%. Jair Bolsonaro (PSC) tem 9%.


Certo, falta um ano para a eleição e muita coisa pode mudar. Porém, em 2013, um ano antes da eleição, os tucanos tinham entre 17% e 25% das intenções de voto no Datafolha. No fim de 2009, os potenciais nomes do PSDB tinham entre 16% e 37%. Em outubro de 2006, as opções tucanas tinham de 16% a 27%. Todas essas foram eleições, vale lembrar, em que o PSDB perdeu. E hoje não tem nem a metade do pico de intenções de voto obtido nas últimas três eleições.


Pode largar pior e vencer a próxima eleição? Claro que pode. Mas, que o cenário não é favorável parece evidente.


O PESO DA MÁQUINA

De Aécio Neves o PSDB não tem como se livrar. O senador ainda é presidente do partido. Afastou-se por iniciativa própria. Ainda é poderosíssimo dentro da legenda. Então, resta ao partido fazer sua defesa, engolir o desgaste, colocar na sacola o que restou do discurso de moralidade. O rigor adotado em relação às denúncias contra petistas teria destroçado o mineiro.

Em relação ao governo Michel Temer (PMDB) a coisa é muito mais complicada. O próprio presidente interino do partido, Tasso Jereissati, defende o afastamento. Os quadros que representam alguma renovação dentro da sigla, também. Mas, as cabeças coroadas de São Paulo e Minas, o café-com-leite que está no DNA do PSDB, é contra o distanciamento. Os que querem a saída do governo também não sabem como deixar o governo.


O problema começa no papel do PSDB para derrubar Dilma Rousseff (PT) e colocar Temer no lugar. Não dá para colocar um presidente no cargo e, um ano e meio depois, simplesmente dizer que não tem nada com isso.


Porém, o problema é mais profundo e estrutural. O PSDB venceu duas eleições presidenciais e em ambas tinha o suporte governamental. Em 1994, Itamar Franco e o Plano Real viabilizaram Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 1998, FHC se reelegeu. Sem a máquina, tucanos nunca tiveram sucesso em eleição presidencial.


Daí a dificuldade extra em, estando na base governista, romper com o presidente e se lançar numa candidatura de oposição, como foi nas últimas três eleições.


Relativiza-se até a memória de 2002, quando o PSDB concorreu com o apoio de um governo impopular e perdeu.


DINHEIRO DESEMPERRA

Depois de muita espera, caminha célere no Senado a tramitação do empréstimo de R$ 206 milhões para a Prefeitura de Fortaleza. O dinheiro vem do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e deve ser usado em saúde e inclusão social.

O dinheiro nem saiu da Casa Civil até que o prefeito Roberto Cláudio (PDT) foi ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB), para pedir pela liberação. Desde então, os trâmites deslancharam. O empréstimo passou ontem na Comissão de Assuntos Econômicos, presidida por Tasso Jereissati.


Sem apoio dos oposicionistas locais, o dinheiro para Fortaleza e o Ceará em Brasília não anda. As negociações de Roberto Cláudio e Camilo Santana (PT) com Eunício rendem frutos administrativos desde já. Os governistas locais dizem esperar não necessariamente que Eunício ajude: esperam ao menos que não atrapalhe.


O empréstimo seguiu para o plenário em regime de urgência.

 

Érico Firmo

TAGS