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Barbárie humana

2017-10-14 01:30:00

A violência tem quebrado sucessivos recordes e ganhou formas até então incomuns por aqui. Ao longo desta semana, O POVO publicou série de reportagens — concebida, planejada e coordenada pelo jornalista Thiago Paiva — que mergulha nas causas e consequências das novas maneiras como criminosos passaram a se articular e agir. As estatísticas assustam, mas o problema vai além dos números. A forma da violência — o nível de brutalidade — e também o modo como atinge as comunidades foram mostrados nas reportagens.


Matar deixou de ser suficiente. Passou a ser necessário humilhar, fazer sofrer e transformar em exemplo. A violência se tornou peça de propaganda das facções. Ganha nova relevância simbólica, macabramente estética. Uma das matérias da série, assinada pelo repórter Igor Cavalcante, mostra o nível de barbárie a que se chegou.


“Pelo menos 13 corpos carbonizados, dez decapitados e outros 14 com sinais de tortura foram achados em Fortaleza e Região Metropolitana desde o início do ano. (...) No modus operandi das organizações, decapitar e carbonizar são o último golpe. Antes, os executores torturam com esquartejamento e espancamento. Há casos ainda em que as vítimas têm cabelos raspados e corpos pichados”. É coisa de Estado Islâmico, mas ocorre em comunidades pobres de Fortaleza.


O ALERTA GOVERNAMENTAL

O Governo do Estado tomou consciência da situação, talvez um pouco tardiamente. O Estado tem agido, embora seja o caso de discutir se a forma tem sido a correta. Os resultados são cada vez piores. A culpa, certamente, não é só estadual. Como talvez nunca antes na história do Ceará, a violência deixou de ser problema local e se inseriu numa rede nacional de crime organizado. Quando secretário da Segurança, Delci Teixeira minimizou os grupos criminosos. Para ele, muitos eram só “pirangueiros”. À época, a pirangagem organizada colocou carro com explosivos ao lado da Assembleia Legislativa. Em um ano e meio, piorou muito.

O problema nacional é tratado com solene omissão pelo Governo Federal. O governador já cobrou, o secretário também. Aliás, houve cobrança conjunta dos secretários estaduais do Nordeste. No O POVO de sábado passado, André Costa aumentou a ênfase: “O presidente da República tem lá suas preocupações, mas a segurança pública não é uma delas. E o Ceará, assim como todos os estados, está pagando com sangue essa total ausência e falta de priorização com a segurança pública por parte da União”. Leia neste link: http://bit.ly/numeroscrimes


A ESTRATÉGIA LOCAL

Sem dúvida, o problema das facções é nacional, com entroncamentos em outros países. Não será o Ceará a dar conta do PCC ou do Comando Vermelho. A solução precisará passar pelos estados, mas ser articulada e coordenada pela União.

Todavia, há de se discutir a estratégia local. A principal medida de segurança é a ampliação do Raio. Secretário da Segurança de 2013 a 2014, Servilho Paiva apontou dificuldade com essa política.


O segredo de grupos como o Raio, ele aponta, é o fato de ser reduzido, com pessoas criteriosamente selecionadas e bem treinadas. E para atuação pontual, em situações emergenciais. Caso se torne muito amplo e de atuação muito generalizada, corre risco de perder o diferencial. “Um grupo pequeno e bem treinado, e isso se amplia. E quando se amplia demais, perde qualidade. A seleção fica mais frágil e vulnerável”, apontou Servilho.


Para ler a série de reportagens acesse os links:


bit.ly/crimedia1, bit.ly/crimedia1parte2, bit.ly/entrevistaservilho bit.ly/entrevistacosta, bit.ly/corposmutilados bit.ly/crimedia4 e bit.ly/crimedia4parte2

Érico Firmo

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