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Reação é sintomática

2017-09-08 01:30:00
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Tão sintomática quanto a fala de Antonio Palocci é a reação de Luiz Inácio Lula da Silva. Se o presidente soubesse ser mentira o que falou um ex-aliado tão próximo, seria de se esperar reação indignada. Que se manifestasse com a fúria dos injustiçados. Pelo contrário, a resposta ao mais duro golpe de que foi alvo o ex-presidente foi serena. Demonstrou até compreender as motivações de Palocci. “(...) só se compreende dentro da situação de um homem preso e condenado em outros processos pelo juiz Sérgio Moro que busca negociar com o Ministério Público e o próprio juiz Moro um acordo de delação premiada (...)”.


O PT também pegou leve com filiado que faz revelações tão graves. Mirou, isso sim, na operação. “O depoimento se soma a outras tentativas da Força Tarefa da Lava Jato de tentar incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sem apresentação de provas, baseadas apenas em delações sem valor legal”.

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Questões que surgem a partir da fala de Palocci: será que ele disse tudo o que sabe? Ele tem como provar o que disse. Como aparentemente ocorreu de forma generalizada - vide Joesley Batista e Sergio Machado - é improvável que Palocci tenha dito tudo. Creio que sabe mais do que falou. Ainda mais porque ainda nem tem garantia de fechar o acordo. E, se não falou tudo, Lula sabe disso. Não irá desancar um companheiro que ainda pode prejudicá-lo mais.


Quanto à segunda resposta, se as afirmações forem verdade, ou Palocci tem como provar ou ninguém mais tem. Lula deve saber se ele tem elementos que confirmem as acusações ou não. Em caso afirmativo, seria elemento extra para o ex-presidente pegar leve na forma como reage ao depoimento.


A VEZ DE MOREIRA FRANCO

A mais recente ação da Procuradoria Geral da República contra Lula e Dilma Rousseff (PT) diz respeito à nomeação do ex-presidente para ministro-chefe da Casa Civil. Rodrigo Janot considerou que o ato foi tentativa de obstrução da Justiça. Deu a Lula foro privilegiado para que não fosse julgado pelo juiz Sergio Moro, e sim pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Convenhamos, o que aconteceu foi exatamente isso.

 

Porém, é de se supor que esteja na fila a mesma denúncia contra Michel Temer e Moreira Franco (ambos peemedebistas). Alvo de dois inquéritos na Lava Jato e citado mais de 30 vezes em delações, Franco era secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), sem status de ministro. Em fevereiro, foi nomeado para a Secretaria-Geral da Presidência da República, cargo de nível ministerial e com foro.


A primeira medida provisória que criou o cargo perdeu a validade sem ser confirmada pelo Congresso Nacional. Por isso, Temer editou nova MP, para garantir que Franco não perdesse o ministério e o foro. O risco de alguém próximo preso e com informações a dar fica escancarado por Palocci.


Lula ficou como ministro algumas horas e a Justiça barrou a nomeação. Moreira Franco segue na função até hoje. Se Lula e Dilma respondem, é natural esperar que o mesmo ocorra em relação a Temer e Franco.


DELÍRIO

Para dar conta da narrativa do escândalo, o filme sobre a Lava Jato, que entrou em cartaz ontem, teria de ser dirigido por um Fellini. Só assim para dar conta de nível de absurdo que inclui dinheirama sem precedentes, em cédulas, achada num apartamento, queda de avião que mata o ministro relator no Supremo e ainda um empresário delator que grava a si mesmo por acidente e acaba entregando à Justiça tudo que tramava.

 

Érico Firmo

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