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Rapidinhas sobre a semana

2017-09-16 01:30:00
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A informação de que Antonio Palocci (PT) disse ter feito pagamentos em dinheiro a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traz um problema e uma vantagem para o ex-presidente. É mais uma denúncia grave do delator com maior potencial complicador para ele. Porém, pagamento em dinheiro é o tipo de coisa que não costuma deixar rastro. Como Palocci pretende provar isso, para além de sua palavra? Lula passou recibo? O testemunho do ex-ministro tem peso, mas, ainda assim, não é mais que palavras.

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O ato final de Rodrigo Janot na Procuradoria Geral da República (PGR) trouxe toque de profunda ironia. Depois de muito trocarem insultos publicamente, o presidente Michel Temer (PMDB) e o empresário Joesley Batista (foto) acabaram alvos da mesma denúncia apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF). Juntos, como naquele fim de noite em que se encontraram escondidos no Palácio do Jaburu. Desde então, o dono da Friboi se vangloriava de ser algoz do presidente, enquanto Temer reclamava que o empresário “cometeu o crime perfeito. Enganou os brasileiros e agora mora nos Estados Unidos”. O crime perfeito melou depois que, desastradamente, Joesley gravou a si mesmo e se entregou.


No afã de defender Lula, o pessoal exagera. O ex-ministro Alexandre Padilha, vice-presidente do PT, saiu-se com esta: “Lula nunca se meteu com qualquer dinheiro”. Menos, né.


FISCAIS

Na mesma operação em que é investigado o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, o STF determinou afastamento de cinco dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado do Mato Grosso (TCE-MT). Eles são acusados de cobrar propina para autorizar a continuidade de obras para a Copa de 2014 — sim, ela ainda rende.

Costumo repetir: a corrupção não prospera se os fiscalizadores não forem coniventes.


VEXAME

Em outubro de 2012, Luís Fernando Veríssimo escreveu sobre uma revolta da plateia que começou no Théâtre des Champs-Élysées, em 29 de maio de 1913, e quase se transforma em rebelião nas ruas de Paris. Por pouco a Polícia não foi acionada para conter a indignação do público contra… um balé. Houve ameaça de invasão do palco e linchamento dos bailarinos. O espetáculo era Ritos da primavera, de Stravinsky, com coreografia de Nijinski para o Ballet Russe, de Sergei Diaghilev.

Não se sabe, Veríssimo conta, o que provocou reações tão extremas: se a música de Stravinsky ou a coreografia de Nijinski. Ao se ouvir a música hoje é difícil encontrar algo de tão revoltante. Sobre a coreografia, é difícil imaginar qualquer coisa mais estranha do que se tornou corriqueiro nos palcos.


Veríssimo ressalta que, de lá para cá, nada na arte provocou tão extrema reação. “É como se tivesse ficado na nossa memória coletiva o comportamento daquela plateia em 1913 e nos preocupássemos em não repetir o vexame. Nada mais nos choca, e se chocasse não diríamos”, ele escreveu.


Pelo debate da semana sobre arte no Brasil, creio que Veríssimo estava errado.


O LADO BOM

Há um lado bom na polêmica sobre a exposição “Queermuseu — Cartografias da Diferença na Arte Brasileira”. Pelo menos se mostra e revigora a relevância e a força da arte. Afinal, como também comentava Veríssimo há cinco anos: “Não deixa de haver uma certa nostalgia pelo tempo em que a arte nova despertava paixões, mesmo paixões reacionárias.


E ela tinha uma importância que perdeu, agora que se aceita tudo”.


Ele comentava à época: “Qualquer vanguardista lhe dirá que fica cada vez mais difícil espantar a burguesia”. Este é um problema do qual não padece quem faz arte neste Brasil de 2017.

Érico Firmo

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