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Quem ganha com o descrédito

2017-09-23 01:30:00

A campanha presidencial deverá estar em pleno curso dentro de um ano e a incerteza só aumenta, à medida que a eleição se aproxima. O descrédito dos potenciais candidatos ficou escancarado pela pesquisa CNT/MDA, divulgada nesta semana. Nenhum candidato tem rejeição abaixo de 50% e o líder em todos os cenários está seriamente ameaçado de ser impedido pela Justiça de concorrer. Na terça-feira, no Live Política, transmissão ao vivo no perfil do O POVO Online no Facebook, o colega Ítalo Coriolano me perguntou se essa rejeição dos candidatos sugere que o futuro presidente da República pode não ser nenhum dos postulantes que estão aí colocados. É uma possibilidade, sim. Respondi a ele que o cenário está pavimentado para o aparecimento de uma novidade, algo diferente.


O problema é que o tempo para surgir uma novidade fica cada vez menor. No âmbito nacional, um candidato só é viável se tiver estrutura capilarizada, alianças nos rincões, estrutura em todo o País. Não dá para aparecer do dia para noite.


Porém, a saída para o impasse pode não necessariamente ser uma novidade. Num cenário de desgaste do poder, como ocorre hoje, a oposição tende a capitalizar o sentimento de rejeição. Porém, quando a desacreditação é total dos candidatos e atinge também os opositores — chega ao sistema político inteiro — e nenhuma novidade consegue sobressair, quem pode sair ganhando é o governo. Se todos são rejeitados, a força da máquina pode ser o diferencial capaz de induzir o voto. Se tanto faz um como o outro, na visão do eleitor, essa concepção pode ajudar quem tem a caneta para conceder benefícios de imediato à população.


Tal realidade se torna muito mais improvável diante do grau de desgaste do governo Michel Temer (PMDB). Ultrapassou-se o patamar no qual o governo é impopular. Os índices atuais são completamente ridículos. Dilma Rousseff (PT) tinha o recorde anterior de impopularidade. Nessa última pesquisa, Temer tem a metade do índice de ótimo e bom obtido por ela, que já era vergonhoso. Então, a de se considerar que o governo está num patamar de desacreditação sem precedentes. Não é situação normal.


Estivesse o governo Temer um pouquinho melhor, teria condições de influenciar as eleições de maneira bastante significativa. Nem precisava ser muito mais popular. Não precisava ser amado. Bastava ser pouquinha coisa menos odiado e já teria cenário ao seu feitio. Fosse impopular no nível em que foi um José Sarney (PMDB), um Fernando Henrique Cardoso (PSDB) no fim de seu mandato, já estaria em boa posição. Ocorre que a situação de Temer é ruim sem qualquer precedente.


Mesmo assim, a economia dá sinais tímidos de recuperação. O PIB voltou a crescer, embora muito discretamente. Caso haja melhora contínua nos próximos 12 meses, quem sabe o governo terá capacidade de fazer a diferença a favor de um candidato que apoie. Nem precisa de muita coisa. Com a máquina, os braços do governo espalhados por todo o País e o financiamento costumeiramente generoso para candidatos de situação, se for capaz de levar seu candidato a algo em torno de 18% a 20%, já estará na briga pelo segundo turno. E, no segundo turno, tudo pode acontecer.


De modo que, por mais que a situação de Temer seja tenebrosa, ainda é possível que o governo consiga emplacar o sucessor. Provável não é, no cenário de hoje. Mas, possível é. O presidente dá sinais de que tem essa compreensão.


Uma das muitas dificuldades para ele está no fato de que, apesar da melhora do PIB, não houve retomada do investimento. Sinal de que ainda há muita desconfiança. E, sem investimento, não tem jeito de o País crescer de forma sustentável e continuada. Sem crescimento e retomada de emprego, não tem como o governo melhorar a avaliação.


A agenda de reformas profundamente impopulares complica ainda mais.


A NOVIDADE QUE ASSUSTA

O cenário político está propenso ao aparecimento de novidade, mas novo não necessariamente é bom.

Sabe quem, entre os pré-candidatos, soa mais diferente de “tudo isso que está aí?” O Jair Bolsonaro (PSC-RJ).


NOVIDADE?

Ciro Gomes (PDT) ressurgiu como alternativa presidencial na esteira das incertezas sobre a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Astuto, percebeu que havia filão eleitoral e tanto de centro-esquerda na oposição a Temer. Tentou surfar nesse segmento. Até agora, não decolou.

Ciro disputa eleições há 35 anos. Tantas quanto Lula, mais que Aécio Neves (PSDB), Bolsonaro, Marina Silva (Rede)... Não convence muito como “novo”. A bipolaridade de amor e ódio com Lula e o PT também não ajuda. Desgasta a imagem tanto com simpatizantes quanto com quem odeia os petistas.

 

Érico Firmo

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