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O efeito Janot

2017-09-15 01:30:00

Sabe o que acontecerá diante da nova denúncia de Rodrigo Janot? Michel Temer (PMDB) dificilmente será afastado, mas terá alguns meses de turbulência política e terá de responder a questionamentos um tanto incômodos.


A decisão sobre deixar o processo prosseguir ou não caberá à mesma Câmara dos Deputados que já inocentou Temer uma vez. O resultado deve se repetir. Porém, como da primeira vez, o presidente terá de escancarar os cofres e fazer favores aos deputados para se safar. A previsível absolvição sairá cara — mais para os brasileiros que para Temer. O rombo fiscal do governo vai crescer, os gastos com fisiologismo terão nova disparada.


O presidente deve se fragilizar ainda mais politicamente. Na primeira votação, teve 263 votos favoráveis — sete a mais da metade dos 513 deputados e 45 a menos que os necessários para mudar a Constituição. Temer fica, mas é cada vez mais fraco.


O PRESIDENTE E A OBSTRUÇÃO DO MINISTRO

São graves as denúncias contra o ministro da Agricultura. Chamado de “rei da soja” e com patrimônio bilionário, Blairo Maggi (PP) é um dos homens mais ricos do Brasil. Ele é acusado de fazer pagamentos milionários para comprar o silêncio de testemunhas e subornar em troca da mudança de versões em processos judiciais. Buscas foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) inclusive no apartamento do ministro.

Os fatos são escandalosos e, em condições normais, seria insustentável a manutenção do ministro. Mas, nesse governo, nem faz sentido cobrar o afastamento. Cerca de um em cada três ministros são investigados por corrupção. Alguns são alvos de inquérito. O próprio presidente da República foi acusado pela Procuradoria Geral da República, ontem mesmo, também de obstrução da Justiça. Faz sentido dizer que Blairo não pode estar nesse governo?


Talvez seja o homem errado no lugar certo para ele.


INTERESSE

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi questionado ontem pela reportagem da rádio CBN sobre se não teria vontade de ser candidato a presidente em 2018. Afinal, ele está preparando as bases para a recuperação da economia - ou pelo menos tentando. Não teria desejo, depois de enfrentar o momento mais complicado, de colher os frutos quando for o período que se espera que seja de crescimento?

Meirelles respondeu: “Vamos aguardar”.


O ministro da Fazenda quer ser presidente, sim. Só não sabe se terá condições políticas de ser competitivo até lá. Então, ele aguarda a evolução dos acontecimentos. Mas já se move para estar no páreo caso a possibilidade apareça.


ESPELHO, ESPELHO MEU

O prefeito paulistano João Dória (PSDB) disse que o ministro Henrique Meirelles deve se concentrar no trabalho no Ministério da Fazenda e não se preocupar com a eleição de 2018. “Não é hora, tem tempo para isso”, disse o tucano.

A declaração é uma graça. No primeiro semestre como prefeito, Dória passou, em média, um dia por semana em viagem ao Exterior. Agenda típica de chefe de Estado, dos que viajam muito.


Ao longo do mês de agosto, ele fez 10 viagens pelo País. Passou por Curitiba (PR), Salvador (BA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Natal (RN), Palmas (TO), Barretos (SP), Vitória (ES), Vila Velha (ES) e Campina Grande.(PB). Agenda típica de pré-candidato a presidente. Como ninguém é de ferro, começou setembro em Paris. Ontem, o prefeito estava na Argentina.


Dória viaja mais do que tem contato com os muitos problemas reais dos paulistanos. A agenda pelo País teve tom de campanha e estilo de candidato.


Ele tem razão ao dizer que o ministro tem de se preocupar mais com a economia que com candidatura. Porém, Meirelles é incomparavelmente mais comedido em sua velada intenção de ser candidato do que Dória tem sido em
sua articulação aberta para concorrer.


A Fazenda está mais bem cuidada do que São Paulo.


POLÍTICO

A respeito de Meirelles, Dória disse ainda: “Quero ressaltar o bom trabalho que o ministro Meirelles vem fazendo à frente do ministério, que espero que continue a fazer e não se contamine pela questão política”.

 

A campanha de Dória a prefeito foi feita com essa lógica de não ser político e não se contaminar pela política. O eleitor acreditou. No cargo, o tucano tem se revelado o mais político entre os 26 prefeitos de capitais.

 

Érico Firmo

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