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A economia e a eleição

2017-09-02 01:30:00
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Os números da economia vão bem melhor que as contas do governo. Enquanto no plano governamental o rombo aumenta, metas são revistas e não há previsão de equilíbrio antes da próxima década, o mercado surpreende com números positivos. A projeção até então era pessimista e o resultado confirma o fim da recessão. O desempenho do PIB mostra que as delações de Joesley Batista não foram capazes de atrapalhar a recuperação. Ao menos por enquanto, pois há novidades no caso.


A dúvida maior é relacionada à consistência da recuperação. A retomada em relação ao mesmo período de 2016 é notável sobretudo na agricultura. O consumo das famílias cresceu e os serviços tiveram melhora em relação ao trimestre anterior. Porém, a indústria se retrai e os investimentos seguem em queda. A recessão acabou, mas a conjuntura ainda é recessiva. Não há confiança para investir.


A evolução do quadro tem muito a ver com as eleições do ano que vem. A menos de um ano da campanha sucessória, o governo Michel Temer (PMDB) está inviabilizado em qualquer coisa que dependa da população. Porém, daqui até a eleição, o quadro pode se tornar menos desfavorável a quem quer que o PMDB venha a apoiar. Em 2005, vale lembrar, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terminou o ano atrás de José Serra (PSDB) nas pesquisas. No ano seguinte, Serra nem conseguiu ser candidato e Lula foi reeleito.


Não vejo cenário para Temer se recuperar a ponto de ser candidato viável. Até porque ele não perdeu popularidade: o peemedebista nunca foi popular. Tem a aprovação que sempre teve: na última eleição em que concorreu sozinho, foi o menos votado do PMDB paulista e por pouco não fica de fora. Porém, se a economia tiver retomada mais expressiva, ele pode ao menos deixar de ser peso tão grande para quem apoiar.


A retomada do PIB representa menos pelo número em si, 0,2%, e mais pela reversão de expectativa. O resultado foi positivo quando se pensava que seria negativo. Pela primeira vez desde 2014, há dois trimestres seguidos de crescimento. Por mais insignificante que pareça o resultado, há confirmação de uma tendência minimamente consolidada de evolução econômica. Para o consolidado do ano, já se espera alta mais expressiva que nas projeções até aqui.


Porém, a melhora não é suficiente para Temer. O governo tem se desgastado tanto e as notícias vindas do Planalto são tão ruins que, para a popularidade aumentar, não basta uma melhorazinha. Precisa de um espetáculo do crescimento, como dizia o Lula. Precisa, sobretudo, de geração de empregos.


A tendência de queda do desemprego vem acompanhada da precarização: a qualidade das vagas é pior, apontou o IBGE. A informalidade tem sido maioria, a despeito da aprovação da reforma trabalhista.


Emprego é o mais importante e complexo indicador de uma economia. É dos últimos a piorar numa crise, mas são também os últimos a se recuperar. A chance de uma candidatura governista ter sucesso em 2018 está numa expressiva geração de empregos.


No impeachment anterior que o Brasil viveu, o governo Itamar Franco viabilizou um candidato para sucedê-lo com o Plano Real. A hiperinflação era um drama, pacotes econômicos estavam em descrédito e o governo se valeu de medida de grande impacto e que deu resultado.

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Temer precisaria de algo dessa dimensão. Não parece viável. Não me parece possível reduzir drasticamente o desemprego ou fazer o País voltar a crescer de modo significativo por alguma política governamental rápida e minimamente sustentável.

 

O PESO ECONÔMICO

Desde a redemocratização, sempre que um governo não fez o sucessor era porque a economia estava em crise. Em 1989, Ulysses Guimarães foi um fiasco como candidato de um PMDB dividido e que não entusiasmava o governo José Sarney. Em 2002, Serra teve apoio do governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) num quadro de desemprego muito elevado e de instauração de uma crise que saiu de controle antes de Lula tomar posse.

Em 1994, porém, a economia elegeu FHC. Em 1998, a crise conseguiu ser contida até o tucano se reeleger, valendo-se do medo que Lula despertava nos mercados. Estourou no ano seguinte. Em 2006 e 2010, a microeconomia e expansão do consumo reelegeram Lula e elegeram Dilma Rousseff (PT). Em 2014, como em 1998, a crise mantida embaixo do tapete até a reeleição viabilizou a apertada vitória de Dilma. Quando teve de administrar os problemas, após a reeleição, sua situação se tornou insustentável.


Recuperar minimamente a economia é condição para que um candidato apoiado por Temer tenha o mínimo de chance. Hoje não teria nenhuma. Daqui a um ano, talvez tenha alguma.

Érico Firmo

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