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A delação que pode mudar tudo

2017-09-07 01:30:00
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Antonio Palocci (PT) foi das figuras mais centrais nos governos da era petista. Homem da economia nos primeiros anos de Luiz Inácio Lula da Silva, ministro-chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, coordenador da primeira campanha de ambos, com papel-chave na arrecadação. O trabalho mais sujo que pode haver numa eleição. Se alguém tem informações para comprometer os ex-presidentes é ele. E há de se supor que tenha como provar. Não é uma delação como outra qualquer. Vem de um companheiro de Lula de longa data, alguém a quem o ex-presidente confiou a chave do cofre quando chegou ao poder. A quem o PT delegou as tarefas mais sensíveis do governo. A quem Lula entregou os segredos de alcova. Vai ser difícil Lula se safar dessa.


Duas denúncias de Rodrigo Janot, uma condenação, vários processos nas mãos do juiz Sérgio Moro e agora o depoimento de Palocci. As circunstâncias contra Lula se avolumam de modo que se torna improvável pensar que ele conseguirá ser candidato a presidente em 2018. A questão passa a ser evitar a prisão. Não será fácil.


Sem Lula na campanha, a eleição muda. O papel do PT, a posição da esquerda, as perspectivas governistas. A se confirmar essa hipótese, será a primeira vez que o líder nas pesquisas será impedido de concorrer a presidente.

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DESCONHECIMENTO NÃO FOI

Petistas estão estupefatos com os relatos de Palocci. Muitos se sentem traídos. Não dá é para fingir não saber que o ex-ministros nunca foi flor que se cheirasse. Quando reinava soberano no ministério, em 2006, ele foi acusado pelo caseiro Francenildo dos Santos Costa de participar de orgias em uma mansão na qual lobistas e empresários se encontravam para negociar favores governamentais. Logo vazou a informação sobre depósitos consideráveis em dinheiro na conta de Francenildo. A origem do dinheiro foi esclarecida: o pai do caseiro, dono de pequena empresa de ônibus no Piauí, deu o dinheiro para que o filho não movesse ação de reconhecimento de paternidade. O que nunca se esclareceu foi a quebra do sigilo bancário de Francenildo e o vazamento de informações para a imprensa. Crime cometido dentro da Caixa Econômica Federal, subordinada ao suposto beneficiário do vazamento - o então ministro da Fazenda. Palocci não conseguiu explicar o episódio e caiu.

Porém, voltou aos holofotes como coordenador da campanha presidencial de Dilma. Asas foram devolvidas à cobra, que nunca deixou de operar nos bastidores. No período fora do governo, abriu empresa de consultoria, contratada por empresas que consideravam “útil” a experiência como ministro da Fazenda. E, mais ainda, o trânsito dentro do Palácio do Planalto. Novamente, emergiram as acusações de atuar como lobista e fazer tráfico de influência. Entre 2006 e 2010, o patrimônio de Palocci cresceu 20 vezes.


Palocci começou o governo Dilma como ministro da Casa Civil. Não sobreviveu nem seis meses no quarto andar do Palácio do Planalto. Caiu quando vieram à tona as revelações sobre o trabalho como “consultor” e o aumento de patrimônio.


Ninguém na era petista teve tanto poder, caiu por se enrolar em denúncias, retornou com ainda mais poder, para cair de novo em seguida. Se os simpatizantes acham que Lula é inocente, a primeira coisa a esclarecer é o porquê de o PT ter devolvido tanto poder a Palocci depois de já ter deixado o governo nas circunstâncias em que saiu. Por mais de uma década, foi o homem de algumas das tarefas mais importantes de Lula e Dilma. Não há meio termo: ou estava envolvido nos crimes que agora revela ou é um grande mentiroso. Nessa segunda hipótese, incrimina-se na própria mentira.


O PESO DA DELAÇÃO

Como qualquer delação, a de Palocci precisa ser provada. Porém, essa tem peso extra. Lula já foi denunciado por muita gente. Ninguém nem de longe com o peso do ex-ministro da Fazenda.

Costuma-se dizer que o testemunho é a prostituta das provas. Porém, quando a prova testemunhal vem de alguém a tal ponto ligado ao acusado, a fala ganha outra relevância. Nenhuma estocada contra Lula havia vindo de alguém tão próximo. O estrago é causado de dentro do próprio partido. Inaugura-se nova etapa na crise.


Não à toa, a fala de Palocci desnorteou o PT.

Érico Firmo

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