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A caminho do impasse

2017-09-20 01:30:00

A pesquisa MDA, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), mostra bem a encruzilhada para a qual o País se encaminha.


1) Todos os candidatos têm mais de 50% de rejeição. Nenhum nome hoje cogitado tem apoio nem de metade da população. Aliás, pior que isso: não há um que pelo menos não esteja entre os que metade do eleitorado não votaria de jeito nenhum.


2) O líder em todos os cenários é o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Há 23,4% dos entrevistados que afirmam que ele é o único em quem poderiam votar. Ele foi condenado em primeira instância e é réu em mais uma penca de casos. Sua candidatura caminha para se tornar inviável. Numa eleição presidencial com candidatos rejeitados em tal grau, se o líder das pesquisas for impedido de concorrer, a instabilidade e os questionamentos ao pleito se multiplicarão. Quem vier a ser escolhido em tal disputa entrará com menos respaldo. Para a oposição hoje, não há cenário confortável que não derrotar Lula nas urnas.


3) Há informações de que o PT cogita boicotar a eleição se Lula não puder concorrer. É o partido que venceu as últimas quatro eleições. A recusa em legitimar a eleição será um baque para a legitimidade. Fará estragos no âmbito internacional.


4) Metade dos brasileiros acha que a saída de Michel Temer (PMDB) não resolveria a crise política. Creio que estão certos. Se Temer sai, haveria eleição indireta. Quem fosse escolhido já seria tremendamente questionado. Não há alternativa de curto prazo.


5) Na opinião de 94,3% dos entrevistados, existe crise política no Brasil. O que me chamou atenção foi haver 4,5% para quem o País não está em crise. O que será que eles acham que falta? Se isso não é crise, acho que nunca houve uma no mundo.


6) A avaliação ótima ou boa de Temer só é melhor que o desempenho de um pré-candidato na pesquisa estimulada: Aécio Neves (PSDB), que, convenhamos, nem candidato tem perigo de ser. O desempenho do presidente é também menos da metade do pior resultado que Dilma Rousseff (PT) teve em pesquisas CNT/MDA.


PARA DIPLOMATA DORMIR

Ao fazer o primeiro discurso entre os chefes de Estado, ontem, na Assembleia Geral da ONU, Temer teve o desplante de falar das florestas brasileiras. O governo Dilma, do qual Temer participou ativamente, já foi um desastre em matéria ambiental. O peemedebista tomou posse e só piorou as coisas, e muito.

Governantes brasileiros adoram usar meio ambiente para saírem bem na foto no Exterior. Isso em todos os níveis. O prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), vive em fóruns internacionais e fala sobre o tema. Quando apresentam agenda ambiental, posam de estadistas e falam o que outras nações querem ouvir. Usam a favor deles o maior patrimônio global brasileiro.

 

Mas, aqui dentro, o que ocorre é coisa bem diferente. Estou para ver o governante que está disposto a impor limites ou ao menos estabelecer regras de sustentabilidade quando se trata de empreendimentos que destroem a natureza. Nenhum até hoje se mostrou disposto a dizer não ao poder econômico, quando o conflito com o meio ambiente se torna inconciliável. Nesses casos, a preservação sempre sai perdendo.


Governo acha bom dizer que vai preservar locais onde não há perspectiva imediata de extrair lucros. Protegem a natureza se isso não mexe com ninguém. Quando interesses colidem, o meio ambiente é degradado. Isso vale para as grandes florestas tropicais e para as áreas verdes remanescentes em espaços urbanos.


Assim vai sendo degradada, também, a qualidade de vida da população. Convivemos com temperaturas cada vez mais altas, mananciais secam. E governantes têm a desfaçatez de ir para fora do Brasil falsear essa trágica realidade e fazer propaganda de si.


INACEITÁVEL

Donald Trump estreou ontem na ONU e iniciou o discurso falando de respeito às diferenças, mas, lá pelas tantas, ameaçou “destruir completamente” a Coreia do Norte. Usou essas palavras.

A ONU foi criada sobre os escombros da Segunda Guerra Mundial, com objetivo de estabelecer equilíbrio de forças e manter a paz. Ano após ano, fracassa miseravelmente em seu intento. Sem ela, é fato, poderia ser pior.


Mas, é inaceitável que líderes do mundo inteiro assistam impassíveis ao presidente da nação mais poderosa do mundo ameaçar outro país de dizimação total.


Tudo bem que a ONU não consegue evitar guerras, mas ir até lá discursar falando da aniquilação completa de uma nação já é tripudiar, afrontar, esculachar de vez as Nações Unidas. Se ao menos um chefe de Estado não fosse um banana, as reações teriam sido veementes.

 

Não vejo outra forma de interpretar a fala de Trump que não como ameaça de genocídio, debaixo do nariz da ONU.

 

Érico Firmo

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