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Os argumentos para não julgar Temer agora

2017-08-04 01:30:00
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Um dos argumentos mais recorrentes nos discursos dos deputados que votaram a favor de Michel Temer (PMDB) foi o de que o presidente não deixará de ser investigado. Eles não votaram contra a denúncia. Foram apenas contra que o trâmite ocorra agora, o que ocasionaria o afastamento do presidente e, portanto, a interrupção do governo. Isso colocaria em risco da estabilidade econômica.


Sei bem os motivos que estão por trás da maioria dos votos. O dito pelo microfone justifica, muitas vezes, o que não pode ser dito. Argumentos usados há um ano pelos defensores de Dilma Rousseff (PT) agora são apropriados pelos apoiadores de Temer, e vice-versa. Mesmo assim, ninguém precisa dizer nada ao microfone além do “sim” ou “não”. Se resolve se explicar, há de se esperar que as coisas façam algum sentido.


E consigo até entender o parlamentar que considera não haver elementos para o processo prosseguir. Discordo, mas compreendo essa percepção. Acho mais lógica que a posição de quem afirma que a denúncia deverá ficar para depois.


Ora, Temer é acusado de corrupção. Deixar para depois o julgamento significa mantê-lo no cargo. Com isso, viabilizar condições para que o presidente sob suspeita continue a cometer o suposto crime atribuído a ele.


Mais que isso: permite-se que esse presidente, primeiro a ser denunciado em pleno mandato pela Procuradoria Geral da República e com caso temporariamente sobrestado, promova reformas estruturais no Estado brasileiro. Isso enquanto aguarda para ser processado.

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QUESTÃO DE ECONOMIA

Outro primor de argumento foi proteger Temer do processo por corrupção com objetivo de resguardar a economia. Ora, são investigados desvios bilionários. Como pode ser bom para a economia deixar de investigar suspeitos de fraudar os cofres estatais? De que maneira a impunidade de eventuais corruptos ajuda no equilíbrio fiscal?

A GRAVE DENÚNCIA DO ADVOGADO

Ao se manifestar no início da sessão de quarta-feira, o advogado de Temer, Antônio Cláudio Mariz, fez acusação gravíssima. Afirmou que havia, sim, chip na mala entregue pelo executivo da J&F, Ricardo Saud, ao deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-RR). Porém, segundo ele, depois surgiu a versão de que não havia chip. O motivo, disse o advogado, é que a mala não foi levada para o destinatário que os investigadores esperavam. Não teria sido entregue ao presidente Michel Temer.

Ora, isso é gravíssimo. O que o advogado do presidente afirmou é que a Polícia Federal, deliberadamente, mente e omite informação com objetivo de derrubar o chefe do Poder Executivo federal. Usa investigação em curso com tal objetivo e com cumplicidade da Procuradoria Geral da República. A ser verdade, é um dos fatos mais graves da história política brasileira.


Por isso, imagino que o advogado tenha subsídios para a acusação que fez. Que tenha provas ou, ao menos, consistentes elementos para isso. Sendo assim, ele consegue demolir facilmente toda a investigação. Desmoraliza a Polícia Federal e a PGR.


Mas, se não tem prova, levou apenas uma das mais monumentais bravatas já proferidas no plenário da Câmara - e olha que ali é palco privilegiado para isso rigorosamente todos os dias. Ou das terças a quintas, pelo menos. Seria leviandade demais dizer uma coisa dessas sem ter algum fundamento. Advogados fazem de tudo para livrar seus clientes, mas, quando o cliente é presidente da República - a quem a Polícia Federal é subordinada - há de se ter o mínimo de responsabilidade.


Porém, se há indícios concretos de manipulação deliberada da PF para derrubar o presidente, para além de desconfiança ou insinuação, não é o caso de isso entrar no meio de discurso durante sessão. Isso precisa ser denunciado e esclarecido. De um jeito ou de outro, o experiente advogado está muito errado.


LIBERAL QUE VIBRA COM IMPOSTOS

Li ontem no O POVO Online: “O ministro francês das Contas Públicas, Gérald Darmanin, expressou satisfação com os impostos que Neymar terá que pagar na França (...)”.

Darmanin é ministro de Emmanuel Macron, o jovem presidente que se tornou referência para liberais do mundo todo. Defende enxugamento da máquina pública e redução de impostos. Mas, pelo visto, adora o dinheiro vindo dos impostos. Como todo muno que chega ao poder.

Érico Firmo

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