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O fracasso do ajuste

2017-08-17 01:30:00

Quando Dilma Rousseff (PT) caiu, teve gente que acreditou que o PMDB ia fazer ajuste fiscal. Fé é daquelas coisas irracionais e as pessoas acreditam no que querem ou podem. O Estado há mais tempo governado pelo PMDB é o Rio de Janeiro. São 14 anos de administração. Atravessa, de longe, a situação mais calamitosa do País, literalmente. Na pior crise econômica de sua história, foi decretada calamidade pública. Servidores públicos têm salários atrasados e outros recebem de forma parcelada. Saúde, educação e segurança estão à beira do colapso. Dinheiro do Estado é bloqueado por ordens judiciais. Na 11ª posição entre as maiores universidades da América Latina, a Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) suspendeu o ano letivo por tempo indeterminado, por falta de dinheiro. Sob a gestão do PMDB, o Rio foi à falência.


O DESASTRE COMO CURRÍCULO

Há um ano, o Rio sediava os Jogos Olímpicos, que tinham a promessa de serem catalizadores de investimento e motor do progresso. Foi a cereja no bolo de uma tragédia fiscal. Dois ex-governadores foram presos no ano passado no intervalo de menos de 24 horas: Anthony Garotinho e Sérgio Cabral. Um foi e outro é peemedebista. Essa é a principal credencial do partido em que se confiou para fazer ajuste fiscal.

 

PIORA CONTÍNUA E RECORDES SUCESSIVOS

Pode ser, então, que alguém fique surpreso, mas o fato é que o ajuste fiscal alardeado quando Michel Temer (PMDB) tomou posse não aconteceu nem vai acontecer. No último ano em que Dilma governou do início ao fim, o déficit foi de R$ 114,7 bilhões. Resultado era desastroso: o pior da história. Em 2016, com Temer no poder na maior parte do ano e com anúncio de cortes e teto de gastos, o déficit foi de R$ 154,2 bilhões. Novo recorde, esse dividido entre o presidente e a antecessora.

Para 2017, a meta de déficit foi afrouxada por motivo de a anterior não ser mais possível de alcançar. Era de R$ 139 bilhões e passou para R$ 159 bilhões. Novo recorde à vista. Descontada a inflação medida pelo IGP-M, o rombo cresceu quase R$ 40 bilhões em relação ao último ano completo de Dilma.


Claro que a situação atual não foi construída por Temer. Ela é fruto do cenário herdado, que era muito ruim. Porém, o que se esperava, ou se prometia, era que pelo menos as coisas melhorassem. Que o rombo diminuísse.

Não para de subir, todavia. Temer não conseguiu que a situação das contas públicas melhorasse. Aliás, não conseguiu nem que pare de piorar.


Não só em 2017. Para 2018, a meta também foi revista e a expectativa de alta foi ainda maior: dos R$ 129 bilhões anteriores para os mesmos R$ 159 bilhões de 2017. Ou seja, pelas previsões: o governo Temer não conseguirá reduzir o déficit do Estado brasileiro uma única vez em três anos.


Para 2019, quando o atual mandato presidencial deverá estar encerrado, o déficit previsto mais que duplicou: a meta era de R$ 65 bilhões e passou para R$ 139 bilhões. Em 2020, quando se projetava voltar a haver superávit primário, agora a equipe de Temer estima déficit de R$ 65 bilhões.


Quando Dilma saiu, deixou dois anos seguidos de déficit registrados pela primeira vez na história. Temer irá para três até 2018. E prevê cinco consecutivos de gastos acima da arrecadação. Expectativa de o governo gastar só o que arrecada, só na próxima década.


AS CULPAS DO GOVERNO

A equipe econômica de Temer é qualificada, mas sucessivamente fracassa em alcançar seus objetivos. Esbarra nas resistências da área política, mas administrar é assim mesmo. Os gestores da economia não governam sozinhos. Não seria assim nem com Henrique Meirelles de presidente. Chama-se realidade. Chama-se política.

Dilma tem responsabilidade enorme no buraco econômico em que deixou o País, mas a incapacidade de dar passos mínimos adiante são culpa de Temer. Tem-se falado muito na frustração de receitas previstas e que não se concretizaram. Mas, há também aumento de gastos.


O número de comissionados tem crescido. Aumentou quando Temer era interino e voltou a subir nos últimos meses, na carona da votação da denúncia da Procuradoria Geral da República contra o presidente. Com a campanha publicitária da reforma da Previdência, o governo gastou pelo menos R$ 100 milhões. Reduzidos no último ano de Dilma, os gastos militares dispararam com Temer.


Até o meio do ano, a previsão era que o teto de gastos, aprovado no ano passado, passasse longe de ser alcançado. Despesas que poderiam ter 3% de alta tinham previsão de subir 8. Mais que o dobro. O teto seria a principal medida de austeridade do governo Temer até aqui.


BLINDAGEM

Os militares são poupados na proposta de reforma da Previdência e, agora, foram preservados do congelamento de salários. Por quê?

 

Érico Firmo

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