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Labaredas governistas

2017-08-22 01:30:00
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Daqui a um ano, a última semana de campanha estará no fim. A passagem do marco simbólico dos 365 dias até a campanha para escolha de presidente, governadores, senadores e deputados já mexe com humores e nervos. Em particular nas fileiras do governismo, a temperatura ferve.


A principal alternativa de poder governista é o PSDB, cujo presidente licenciado e interino travam disputa. Aécio Neves não tem condições de reassumir, pelas complicações com a Lava Jato. Tasso Jereissati não tem condições de ficar, pelos interesses que desagradou.


Historicamente mais fiel aliado do PSDB, o DEM terá candidato próprio, segundo disse ontem o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ), hoje principal expoente da sigla.

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E, no começo do mês, circulou informação de que Michel Temer disse que o PMDB está de portas abertas ao prefeito paulistano João Doria, que periga ficar sem espaço no PSDB para concorrer a presidente. Temer tem dito que não concorrerá — o que fica mesmo difícil, a considerar que ele é o presidente com mais baixa popularidade já medida por institutos de pesquisa. Porém, os peemedebistas estão gostando de controlar a caneta presidencial e, se puderem, tentarão se segurar na cadeira como puderem.


Doria, aliás, também estaria sendo alvo do DEM, que tentaria atrai-lo. Na última sexta-feira, em visita a Fortaleza, ele disse que não cogita disputar contra Geraldo Alckmin para ser o candidato tucano. Sair do partido pode ser uma maneira de não bater de frente.


O fato é que as três principais forças que sustentam o governo Temer trabalham por projetos autônomos. Teoricamente o mais consolidado e competitivo, o PSDB perde espaço com a guerra interna.


A ESTRATÉGIA DE VENDER NA BAIXA

O Governo Federal batalha para tentar reduzir o rombo nas contas públicas e o caminho encontrado tem sido o de vender estatais. Outras alternativas seriam cortar despesas ou aumentar impostos. Não conseguiram a primeira e já adotaram a segunda, para enorme desgaste mesmo entre os que apoiam o governo. Ontem, foi divulgada a decisão judicial de suspender o leilão de quatro usinas hidrelétricas da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O governo contava com os leilões e contabilizava R$ 11 bilhões na arrecadação - mais da metade do rombo extra previsto na proposta de nova meta de déficit fiscal. Sem esse dinheiro, o governo ontem passou a falar em leilão da Eletrobrás.

Nenhum debate atualmente é tão ideologizado hoje no Brasil quanto o tamanho do Estado. A visão ideológica da atual equipe econômica é de reduzir o tamanho da máquina pública e privatizar o que puder. Em regra, acho que esse debate sobre tamanho do Estado é travado de forma enviesada. A questão não é se a estrutura governamental é grande ou pequena. O ponto é decidir o que a sociedade deseja do Estado e quanto está disposta a pagar por isso. A definição do que estará ou não na esfera governamental passará por isso: a população está disposta a arcar com a carga tributária necessária para arcar com aqueles serviços e estruturas? Ou prefere pagar menos por máquina mais enxuta? Ou ainda arcar com ainda mais para ter mais retorno. Esse é o ponto. Não existe um tamanho ideal do Estado. Não há funções que ele não pode assumir. A questão é quanto isso custa e quanto a população concordar em custear.

 

Pois bem, o governo acha que deve se desfazer de estatais para fechar as contas. Péssimo motivo e péssimo momento. Se a administração Michel Temer (PMDB) concluiu que deve se desfazer da empresa, que o setor funcionará melhor nas mãos da iniciativa privada e que será melhor ao interesse público a venda, tudo bem. Isso é uma coisa. Diferente é vender para pagar despesas correntes, que precisarão ser cobertas de novo no ano que vem, quando não haverá mais a estatal para vender. É equivalente a vender as roupas para comprar comida. Alimentar-se é mais importante que se vestir, mas, esse tipo de economia não é sustentável. No dia seguinte, a pessoa estará pelada e com fome. E como periga ficar o Estado.


A Eletrobrás teve lucro de R$ 3,4 bilhões em 2016. Outra ideia em análise no governo é vender aeroportos lucrativos, como Santos Dumont e Congonhas. Privatizá-los pode ser uma boa saída? Talvez. Porém, é complicado fazer isso para tampar momentaneamente o rombo que estará lá de novo no ano que vem.


Isso não é o pior: equivocado mesmo é fazer essa privatização de bens valorizados em momento de crise econômica. A chance de os ativos governamentais serem adquiridos por preços subavaliados é enorme. Isso atenta contra o interesse público.

Érico Firmo

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