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O que afasta e o que aproxima o PSDB de Temer

2017-07-07 01:30:00

A dúvida no PSDB sobre sair ou não do governo Michel Temer (PMDB) está relacionada a pragmatismo eleitoral de médio prazo por um lado, e, por outro, ao misto de necessidades imediatas de seus principais líderes, apego ao poder do qual desfruta e ainda o mínimo de coerência e responsabilidade com os próprios atos.


O partido foi o motor inicial e força propulsora do impeachment de Dilma Rousseff (PT). Tem muita responsabilidade pelo atual governo. Não pode simplesmente sair. Por outro lado, o presidente bate recordes de impopularidade. A campanha eleitoral estará em andamento dentro de um ano e um mês e, salvo reviravolta típica de livro do Dan Brown, quem estiver vinculado a ele terá de arcar com desgaste de proporções quase inviabilizantes.


A base tucana pressiona pela desvinculação do governo. Sobretudo os mais jovens e menos enrolados. “O partido, sem nenhuma imposição de lideranças, está evoluindo naturalmente para a saída do governo. Não para fazer oposição ao governo Temer, mas para não participar mais do governo”, disse Tasso Jereissati, presidente interino da legenda. “A grande maioria já está se posicionando. Não dá para controlar, as coisas vão acontecendo”.


Por outro lado, entre os caciques, quase todos estão sob investigação. Nos próximos dias, deve haver definição se Aécio Neves reassume a presidência nacional da sigla. O mineiro é o principal opositor da ideia de romper com Temer. Para ele, antes de 2018 vem a preocupação com sua situação imediata. Boas relações com o governo são imprescindíveis para quem tenta salvar a própria pele.


PRESSÃO POR SAÍDA NÃO É NOVA

Não é de agora que Tasso ecoa o sentimento pela saída do governo. “O mais provável, se continuar assim, é o PSDB liberar sua bancada e ficar em uma posição de independência e indiferença em relação ao governo daqui para frente. Se ficar rachado na sua base, quem vai cair é o governo, não o PSDB. Se a base não apoia essa política, eu também não vou servir de boi de piranha”, disse o cearense, em agosto do ano passado, em meio a desentendimento em relação à condução do ajuste fiscal.

Tasso já defendia a entrega dos cargos desde o mês passado. “Minha posição foi vencida. Não houve consenso da maioria”, disse após reunião na primeira quinzena de junho. “Esse não é o meu governo, o governo dos meus sonhos. Não votei nem nele nem nela. Estamos no governo por conta das circunstâncias do nosso País”, resumiu o cearense na ocasião. “Com certeza existe uma incoerência nisso, mas foi a incoerência que a história nos colocou”.


Essa incoerência é complicador adicional para o projeto de poder do partido de voltar à Presidência em 2018. Já não seria fácil em condições normais, a considerar que as alternativas se esfarelam uma a uma diante das denúncias. Ao se manter amarrado a governo tão tremendamente impopular, o partido amplia o desgaste. Porém, não encontra maneira simples de se afastar. Porque tal saída não existe.


O MELHOR CAMINHO PARA O PSDB

Talvez o que de melhor pudesse ocorrer para o PSDB hoje fosse a cassação de Temer. O desgastado presidente sairia, haveria tentativa de nova pactuação e quem sabe pudesse haver um rearranjo. A retomada do mínimo de credibilidade, algo de que o presidente não é capaz. Por isso Tasso acena com Rodrigo Maia (DEM-RJ).

A dinâmica dos acontecimentos pode ser curiosa. Caso Dilma não tivesse sofrido impeachment, é possível que seguisse ladeira abaixo. O desgaste era crescente. A sustentação política, precária. A agenda, impopular. Com mais dois anos de mandato, a tendência natural era o PT perder mais e mais apoio. Com o impeachment, todavia, o desgaste mudou de lado. Investigações continuaram a atingir o PT, mas o partido deixou de ser o foco. Quem está no poder — é lógico e natural — torna-se alvo prioritário. Na época do impeachment, Luiz Inácio Lula da Silva tinha de 21% a 22% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Na última pesquisa, chegou a 30%.


Até 2018 muita coisa pode acontecer. Não se sabe se o ex-presidente terá condições legais de ser candidato. Se for, a rejeição é muito grande. Porém, as pesquisas mostram que Lula ficou mais competitivo desde que o PT deixou o poder.


Esse cálculo nunca é seguro. O PSDB não bancou o impeachment de Lula na época do mensalão para deixar o governo sangrar e chegar fraco à eleição. Mas, Lula se recuperou e foi reeleito. Pode acontecer isso na base de Temer? Até pode. Mas, não apareceu um Lula até agora nas fileiras governistas.

 

Érico Firmo

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