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O embate das forças no Ceará

2017-07-18 01:30:00

Confronto político que antecipa a sucessão estadual do ano que vem, a proposta de extinção do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM) sinaliza o peso que a máquina estadual mantém, independentemente até aqui da perda do poder federal. Conforme O POVO já mostrou, a ascensão da oposição local ao poder nacional não representou correspondente fortalecimento no Estado (leia neste link: http://bit.ly/eunicioceara). O prestígio de que desfrutam em Brasília nomes como Eunício Oliveira (PMDB) e Tasso Jereissati (PSDB) não representou até agora ganho significativo para os respectivos grupos. Voltados às intrincadas questões nacionais, peemedebista e tucano pouco têm dado atenção às movimentações no Ceará. Na votação do TCM, a oposição local caminha célere para a derrota. Restará, novamente, apostar em Brasília, nas articulações nos bastidores da Justiça.


A HISTÓRIA NA CONTRAMÃO DAS VONTADES

Morto há 50 anos em desastre aéreo ainda envolto em mistério, Castelo Branco não tinha pretensão em estabelecer uma ditadura militar. O perfil moderado talvez tenha sido determinante para o sucesso do golpe em se tornar regime dominante por duas décadas. Essas ironias permeiam a história do Brasil. Os rumos muitas vezes são determinados por personagens de forma alheia às suas vontades.

É o caso da própria implantação da República. Dom Pedro II, imperador deposto em 15 de novembro de 1889, escreveu à condessa de Barral. “Eu, de certo modo, poderia ser melhor e mais feliz presidente da República do que imperador constitucional”.


Já o marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República e primeiro presidente, escreveu ao sobrinho em 1888: “República no Brasil é coisa impossível, porque será uma verdadeira desgraça. (...) O único sustentáculo do nosso Brasil é a Monarquia; se mal com ela, pior sem ela”. Pouco depois, ele insistiu: “Não te metas em questões republicanas, porquanto República no Brasil e desgraça completa é a mesma coisa; os brasileiros nunca se prepararão para isso, porque sempre lhes faltarão educação e respeito”.


De modo que o Brasil teve ditadura implantada por general que não queria ser ditador, República implantada por um monarquista, que veio a destituir imperador simpatizante das ideias republicanas.


Ambas as referências, a dom Pedro II e Deodoro, são do livro 1889, de Laurentino Gomes (Globo Livros, 2013).


TRÊS MORTES QUE MARCAM O INÍCIO MEIO E FIM DA DITADURA


Três mortes controversas, entre tantas ocorridas ao longo do regime dos generais, marcaram o início, o meio e o fim da ditadura militar. Não há comprovação de que nenhuma delas tenha sido intencional, mas a obscuridade com que foram tratadas alimentou teorias. E o fato é que a perda daquelas personagens transformou os rumos do País.


Castelo Branco havia acabado de deixar o poder, mas ainda era a figura de maior prestígio nas Forças Armadas. Era a pessoa com mais condições de fazer algum contraponto à linha dura que acabara de chegar ao poder com Costa e Silva. Com Castelo vivo, haveria possibilidade de resistência interna a algumas das medidas que mergulharam o País em seus anos mais sombrios.


Dois anos depois, a morte do próprio Costa e Silva evitaria o que poderia ter sido uma inflexão do regime. Ele editou o mais infame de todos os atos institucionais, o AI-5, em dezembro de 1968. Cinco meses depois, anunciou a criação de comissão de juristas com função de elaborar emenda à Constituição, que incluiria a revogação do AI-5. Em 7 de setembro de 1969, Costa e Silva sofreu isquemia e morreu em dezembro. A evolução do estado de saúde foi tratada sempre com muito segredo. O vice-presidente, o jurista Pedro Aleixo, foi impedido de assumir pela Junta Militar. O AI-5 ainda durou mais de nove anos, até 1979.


Por fim, outra morte polêmica marcou o fim da ditadura. Tancredo Neves, civil escolhido em eleição indireta após 21 anos de governos militares, foi internado pouco antes da posse. Morreu em meio a tratamento bastante discutido, com evolução da saúde também marcada pela falta de transparência.


É possível que todas as mortes tenham sido mera fatalidade. Mas, a forma obscura como foram tratados assuntos de tamanho interesse público, além dos desdobramentos decorrentes, contribuíram para as especulações. É fato que as três mortes mudaram a história do Brasil. Observadas em conjunto e considerados os métodos da época, é difícil não ficar com uma pulga atrás da orelha sobre se não teria havido alguma ação dos muitos poderosos que teriam a ganhar com as mortes.

 

Érico Firmo

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