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Haddad repete FHC

2017-07-19 01:30:00

O diagnóstico do ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT) se assemelha bastante ao que disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), há mais de década. “PT e PSDB, que estruturaram a política desde 1994, cada um à sua maneira manteve o outro refém do atraso”, disse o petista à Folha de S.Paulo. “No fundo, nós disputamos quem é que comanda o atraso”, disse FHC na revista Comunicação & Política, do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos.


O mais aguerrido tucano e o mais apaixonado petista haverá de reconhecer que seu partido, para governar, teve de se aliar a coisa muito pior que o maior rival. Como os dois não se entendiam, o que vencia a eleição se aliava a praticamente o mesmo grupo de médios partidos que sempre orbita o poder. O “atraso” em questão.


Pode-se gostar ou não de ambos — e os motivos para não gostar são mais numerosos em ambos os casos. Porém, eles foram o que de melhor a estrutura partidária brasileira foi capaz de construir.


São as legendas mais sólidas e consistentes entre os partidos relevantes. Há os partidos considerados mais ideológicos, que são, entretanto, muito pequenos, pouco representativos. Nenhum deles foi capaz de construir enraizamento social e capilaridade a ponto de convencer setores significativos da população a aderir a eles, financiá-los ou apenas votar.


Para além disso, há forças pequenas ou médias que, ainda que com seu valor, não conseguem manter identidade nacional. Algumas têm um discurso no plano federal, mas se transfiguram pelos municípios ao sabor das conveniências mais sub-reptícias. Das alternativas reais de poder, PT e PSDB são o que de melhor surgiu até hoje. Daí se tire.


Não concordo com a tese de que PT e PSDB são iguais. Têm origens, bases sociais, prioridades e visões de políticas públicas distintas. Porém, se aproximam muito mais entre si de que com a maioria dos partidos que lhes deram sustentação nos governos. “O que separa PT e PSDB não é nenhuma diferença ideológica ou programática, mas pura e simplesmente a disputa pelo poder”. dizia FHC.


“Nem Fernando Henrique Cardoso nem Lula, que tinham liderança para estimular dirigentes a buscarem uma solução, fizeram o movimento”, diz agora Haddad.


O ex-prefeito paulistano foi o melhor quadro que o PT foi capaz de construir após a chegada ao poder. O partido hoje olha para o futuro e enxerga a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva em 2018. O motivo não é programático, mas jurídico. Uma reação à condenação do político e do partido. Do ponto de vista da reconstrução da sigla, entretanto, Haddad é a possibilidade de futuro para o PT. E seu diagnóstico se aproxima ao do expoente maior do PSDB.


MUDANÇA NO UBER EM SÃO PAULO MOSTRA O QUANTO FORTALEZA PERDE

As novas regras instituídas em São Paulo para aplicativos de transporte como o Uber mostra o quão equivocada é a postura da Prefeitura de Fortaleza. Entre as novidades, a exigência de que carros sejam emplacados em São Paulo.

Lá, a medida causa polêmica e incomoda os aplicativos. Certa ou errada, é melhor que a proibição total que a Prefeitura de Fortaleza tenta impor. Ênfase no “tenta”.


Na prática, qualquer pessoa pega Uber em Fortaleza a qualquer hora do dia ou da noite. São milhares de motoristas em plena atividade. A exigência paulistana sobre emplacamento assegura que a arrecadação do IPVA fique no Município.


Em Fortaleza, para dar satisfação aos taxistas, a Prefeitura finge que consegue impedir o Uber. Os motoristas circulam livremente, o Uber arca com os prejuízos de quem é flagrado, a Justiça impede cada vez mais apreensões de carros, os taxistas não percebem que a proibição é fajuta. Ninguém ganha. Apenas se faz um jogo de cena no qual o Município não arrecada, os taxistas enfrentam concorrência ainda mais injusta — pois não é regulada de forma alguma — e os motoristas da Uber têm um transtorno, que não representa empecilho real.


O curioso sobre São Paulo: o prefeito João Dória (PSDB), liberal convicto, tem adotado medidas de regulação governamental, enquanto o petista Haddad adotava postura a favor do livre mercado na atuação dos compartilhamentos. O que remete ao tópico acima, sobre as ideologias de PT e PSDB.


AS TRAGÉDIAS QUE ASSOMBRAM UMA FAMÍLIA

Foi encontrado morto nesta segunda-feira Getúlio Dornelles Vargas Neto, de 61 anos. A causa foi um tiro na cabeça. Ao lado do corpo, foi deixada carta endereçada à família. Tal qual o avô, Vargas Neto, como era conhecido, cometeu suicídio.

Ele era neto do ex-presidente Getúlio Vargas, que cometeu suicídio em 1954, aos 72 anos. O pai de Vargas Neto, Manuel Antônio Sarmanho Vargas, o Maneco Vargas, também havia cometido suicídio, em 1997, aos 79 anos.


Cada vida é uma história e é difícil entender os fantasmas que assombram cada um. Porém, impossível não pensar como aquela morte 63 anos atrás, dramática como talvez nenhuma outra na história política brasileira, assombra os descendentes.

 

Érico Firmo

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