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A força do governo mais impopular da história

2017-07-29 01:30:00

Política tem variáveis curiosas. Michel Temer (PMDB) obteve neste semana o pior percentual de aprovação de um presidente já medido pelo Ibope. Nenhum governante teve índices tão ruins em mais de 30 anos, desde que passaram a ser feitas pesquisas minimamente confiáveis. Esse mesmo presidente é alvo de denúncia gravíssima da Procuradoria Geral da República. A Câmara dos Deputados marcou para a semana que vem a sessão que deve decidir se a denúncia deve prosseguir ou não. Caso tenha andamento, Temer será preventivamente afastado do cargo. Situação politicamente calamitosa, não é?


Não exatamente. A sustentação política do presidente vai surpreendentemente bem. Tem percalços com PSDB, enfrenta dificuldades, não tem maioria para aprovar as reformas constitucionais mais complicadas, mas a situação acaba sendo muito mais confortável do que o cenário justificaria. Com problemas no âmbito penal e com a economia derrapando, onde Temer hoje se sai melhor é na política.


É intrigante. Dentro de um ano, a campanha eleitoral estará praticamente começando. Políticos são normalmente suscetíveis à pressão popular, sobretudo perto de eleição. Isso ainda não ocorreu em relação ao governo de maior impopularidade jamais medida no Brasil.


A dúvida em relação à votação da denúncia contra Temer é apenas se haverá quórum ou não. Porque, no voto, o governo terá maioria. A oposição ameaça tentar impedir sessão em cuja pauta é a maior interessada.


OS PILARES DE UM GOVERNO

Um fator isoladamente não costuma comprometer um governo. A queda de Dilma Rousseff (PT) ocorreu, isso escrevi algumas vezes na época, porque ela viu se deteriorarem todos os alicerces: não tinha apoio popular, político, empresarial e mesmo os sindicatos se indispuseram com elas. Não muito tempo antes do impeachment, várias greves estavam em curso.

Temer está mal perante a opinião pública, mas segue bem na política. A economia já esteve pior, mas as más notícias se avolumam. E, principal trunfo, a equipe que comanda a Fazenda tem credibilidade do mercado nacional e do internacional.


Temer está pior como nunca num dos suportes essenciais de qualquer governo. Porém, mantém outros pilares mais ou menos firmes e isso o segura.


PARA ALÉM DA IMPOPULARIDADE

A impopularidade de um governante o fragiliza, mas isso pode se converter ou não em ação prática. Dilma não foi derrubada pelos protestos de rua. Mas dificilmente cairia se não fossem por eles. A impopularidade ali mostrou seu rosto e se corporificou.

Com Temer, a desaprovação é até maior, mas não se converteu em fato concreto. Muitos dos que ajudaram a derrubar Dilma desaprovam Temer, as pesquisas mostram. Porém, não têm tido o mesmo ímpeto e disposição para se opor. Movimentos que puxaram o protesto não se mobilizam. E tampouco os que defenderam Dilma e lideram a atual oposição têm conseguido promover manifestações mais significativas.


O fato de o presidente não ter sido votado para o cargo que hoje ocupa talvez o torne menos vunerável à falta de aprovação daqueles a quem governa.


NÃO BASTA A POLÍCIA ENTRAR

Diante do assassinato do jovem que não cumpriu a determinação criminosa de baixar o vidro da janela do carro ao entrar na Alameda das Palmeiras, no Ancuri, o secretário da Segurança Pública e Defesa Social, André Costa, voltou a dizer que não há territórios aos quais policiais não cheguem. “Não existe isso de locais em que a Polícia não vá, não entre, não atue”

Tudo bem, mas isso é pouco. Muito pouco. Quase nada. A Polícia entrar em qualquer lugar é o mínimo, o elementar. Para além disso, teríamos instituído Estado paralelo, controle absoluto de territórios pelo crime, desmoralização do poder público. Não é desse estágio que estamos falando, felizmente.


Porém, além de a Polícia entrar, é preciso que a população entre, circule livremente e em segurança. O que vemos hoje é o crime estabelecendo regras para determinadas áreas. Quando a Polícia chega lá, a coisa muda. Mas policiais não permanecem lá para sempre. Isso é impossível. Quando se retiram, restitue-se a “lei” paralela dos que estão sempre lá.


O POVO visitou seis desses territórios. Os relatos dos moradores, em regra, dão conta de que são locais tranquilos, desde que as normas determinadas pelo domínio criminoso das áreas. É uma calma permeada pelo medo. Isso também é desmoralizante para o Estado de direito.


Para ler a reportagem do O POVO sobre o assunto, acesse estes links: http://bit.ly/territorioscrime1 e http://bit.ly/territorioscrime2

 

Érico Firmo

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