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O Temer que vai ficando

2017-06-02 01:30:00
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Michel Temer (PMDB) esteve à beira da deposição, mas conseguiu algum fôlego. Pode ser a melhora da morte, já que a cassação pode ocorrer no julgamento que começa daqui a quatro dias. Porém, já esteve em situação pior. A melhora vem em duas frentes. De um lado e principalmente, da falta de alternativa que agrade minimamente as forças majoritárias da política. Sem razoável consenso sobre a substituição, quem está no lugar vai ficando. Outro fator que fortalece Temer é o sinal de melhora da economia.


A recuperação lenta e gradual era esperada desde 2016, mas acabou demorando a aparecer. O primeiro trimestre com aumento do PIB desde 2014 não podia chegar em melhor momento para o presidente. Ele segue impopular, mas tinha apoio do mercado. Com o enorme escândalo em que se viu envolvido, ficou sob desconfiança dos meios empresariais, que passaram a duvidar de sua capacidade de tocar as reformas. Se perder esse suporte, o governo se esfarela.

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O discurso do presidente tem sido de superação da crise econômica, da importância de seguir no rumo e promover as mudanças propostas. Ele sinaliza com avanços para convencer seus alicerces - o meio econômico e o político - a segurá-lo no cargo. Tenta mostrar que outra mudança traria instabilidade extra e que o melhor caminho é mesmo mantê-lo.


Por falta de opção, há quem considere isso mesmo. A dúvida é sobre em qual condição Temer fica, se ficar.


FRÁGIL CONDIÇÃO

Caso consiga mesmo se segurar, Temer ficará em posição volátil, vulnerável. É alvo de inquérito, será interrogado. As denúncias contra ele são graves de tal modo que não terá sossego ou estabilidade enquanto a investigação não chegar ao fim. Fato novo de gravidade terá potencial de implodir de vez seu mandato. A considerar a dinâmica dos últimos três anos, dificilmente o presidente completará a travessia até 2018 sem novos percalços. Se sobreviver à crise de agora, terá estofo para absorver futuras revelações?

POPULARIDADE

Temer procura dar sinalizações para políticos e empresários porque é desses segmentos que tem apoio. Sua popularidade, porém, é das piores já registradas na história, a mais baixa entre as avaliações confiáveis entre líderes mundiais.

Nessa condição, terá força para aprovar reformas altamente impopulares? Na situação em que se encontra, suportará protestos crescentes como é previsível que haja?

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A NECESSIDADE DE DIZER QUE FICA

No dia seguinte à revelação da delação da JBS, Temer fez pronunciamento em meio a rumores de que deixaria o cargo. “Não renunciarei. Exijo investigação plena e muito rápida para os esclarecimentos ao povo brasileiro”, contrariou as informações. Dois dias depois, novo pronunciamento:: “O Brasil não sairá dos trilhos. Eu continuarei à frente do governo”.

Nesta terça-feira, ele voltou a dizer que fica, em discurso para empresários. “Seguiremos firme em nome da agenda de reformas que não podemos abandonar”. Na quarta, no lançamento do Plano Safra, voltou a bater na tecla da continuidade. “Nós vamos continuar nessa trilha. Ninguém vai impedir que nós tenhamos impedimento dessas políticas públicas que estamos levando à frente”.


Em 7 de julho de 2015, Dilma Rousseff (PT) afirmou. “Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou”. Disse mais: que sua permanência no cargo seria “moleza”. Em 7 de agosto do mesmo ano, disse de novo que ficaria no cargo até o fim do mandato.


Quando presidente precisa dizer que fica é porque as pessoas não estão bem certas disso. Quando precisa repetir isso seguidas vezes, é porque as pessoas não se convenceram.


É UM POUQUINHO MAIS

Escrevi na coluna de anteontem sobre os 600 mil que o ex-ministro Guido Mantega (PT) admitiu ter em conta não declarada no Exterior. Mas, falei de 600 mil reais. Na verdade, o valor é em dólar. Dá um pouco mais.

Érico Firmo

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