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A pinguela de Temer afundou

2017-06-24 01:30:00
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A pinguela se foi de vez. Embora ainda tenha capacidade de prolongar sua agonia, Michel Temer (PMDB) não tem mais qualquer condição de se manter à frente do Palácio do Planalto. Prestes a ser denunciado, o peemedebista viveu sua pior semana desde que as conversas com Joesley Batista, dono da JBS, vieram à tona, em meados de maio.


Seu périplo internacional foi um vexame.
A reforma trabalhista foi rejeitada em comissão do Senado, com votos contrários de aliados e correligionários. O PSDB ameaça o desembarque, a despeito do arquivamento do processo que pedia a cassação do senador afastado Aécio Neves.


Considerada peça-chave no processo que investiga o presidente por corrupção passiva, participação em organização criminosa e obstrução de justiça, a gravação de conversa entre Temer e Joesley era questionada pela defesa do peemedebista, que chegou a contratar um perito, Ricardo Molina, cuja análise apontou dezenas de pontos de descontinuidades na fita. O técnico a serviço do Planalto chegou a recomendar que os áudios fossem “atirados no lixo” e que o Supremo Tribunal Federal (STF) os descartasse como prova.


Ontem, porém, o Instituto Nacional de Criminalística produziu laudo com teor diferente. Nele, diz que o áudio é legal, tem pontos de falha, mas que se devem ao mecanismo de funcionamento do próprio gravador utilizado, que é de baixa qualidade. O relatório da PF, que chega ao Supremo na próxima semana, dará sustentação à denúncia contra Temer a ser apresentada pela Procuradoria-Geral da República.


É a primeira de uma série que poderá chegar a quatro, tudo dentro da estratégia de forçar os deputados federais a votar sucessivas vezes, desgastando-se na tarefa quase impossível de proteger Temer.

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Em meio à crise, o presidente viajou para Rússia e Noruega a fim de fazer parecer que ainda governa, mas já não há governo. O País está à deriva. Caso insista em continuar, provocará um desgaste imenso, sob risco de comprometer a agenda que ele mesmo colocou em campo. No início, talvez fizesse sentido afirmar que o andamento delas dependia de Temer. Hoje, não. O peemedebista mais atrapalha que ajuda. É um elefante na sala, do qual o próprio mercado já quer se livrar.


CAMILO, LULA E CIRO

Até onde se sabe, Camilo Santana continua filiado ao PT, partido pelo qual se elegeu governador. Antes de ontem, durante evento na sede da legenda que empossou Francisco de Assis Diniz e Acrísio Sena como presidentes estadual e municipal, respectivamente, o chefe do Executivo estadual disse no palanque montado: Lula é o “grande nome para ser candidato” em 2018.
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Ora, deduz-se, por raciocínio lógico, que, em sendo Lula o candidato do partido, será também o de Camilo, certo? Nem tanto. Em entrevistas recentes ao O POVO, o governador já se declarou favorável ao nome de Ciro Gomes (PDT) para concorrer às eleições. Nada mais natural.

Afinal, o grupo dos Ferreira Gomes foi o grande sustentáculo da campanha camilista no Estado. Logo, compreensível que o governador se sinta em dívida com os irmãos Ciro e Cid e queira retribuir o gesto no próximo pleito.


Ocorre que, seja lá por que razão tenha defendido Lula, se por brincadeira ou para amenizar resistências que enfrenta dentro do próprio partido, Camilo criou uma dificuldade para si ao afirmar espontaneamente, e não perguntado por jornalista, que o ex-presidente é o nome mais forte do PT e das esquerdas. No ano que vem, chegada a disputa eleitoral, o governador será confrontado por correligionários com sua própria declaração.

É quando terá chegado a hora de responder se  Lula é bom apenas para o PT, mas não para ele.

 

Henrique Araújo

Jornalista, editor-adjunto de Conjuntura do O POVO

Escreve esta coluna interinamente de terça a sábado

 

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