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Reforma avança com certo sufoco

2017-05-04 01:30:00
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A reforma da Previdência foi aprovada na comissão especial por 23 votos a 14. Se a mesma proporção de votos for obtida quando a votação ocorrer em plenário, as mudanças na Constituição serão aprovadas, mas com margem bastante estreita. O placar de ontem não exprime o malabarismo necessário para a votação. Deputados da base governista que votariam contra a proposta foram substituídos de última hora. O relatório passou por mudanças no meio da votação. Houve alteração feita e revogada no andamento da própria sessão. Indicativo do que se prenuncia para o projeto como todo: com percalços, tende a seguir em frente, ainda que o governo precise ceder e mais alterações ocorram.


A TENTATIVA DE REPACTUAÇÃO DO PT

A salomônica saída encontrada para a eleição do PT em Fortaleza foi alternativa política para evitar o racha definitivo do partido em momento de crise. É surpreendente, e positivo para o partido, que tenha sido possível entendimento depois da escatológica lavagem de roupa suja em que se converteu a escolha do novo comando municipal. A decisão foi pela alternância dos dois candidatos: o vereador Acrísio Sena, que teve três votos a mais, irá presidir o partido em Fortaleza na primeira metade do mandato. O ex-vereador Deodato Ramalho cumprirá a segunda metade.

A decisão de alternância na direção do partido foi costurada em reunião realizada ontem, em Brasília. Foi comandada pelo presidente nacional da legenda, Rui Falcão, com participação do deputado federal José Guimarães, do próprio Acrísio, do atual presidente municipal Elmano de Freitas, do vereador Guilherme Sampaio — os dois últimos apoiadores de Deodato — além de Sônia Braga, cearense e integrante da direção nacional, e de Cícero Cavalcante, aliado de Acrísio.


A direção nacional iria confirmar o resultado e dar vitória a Acrísio. Porém, optou-se pelo acordo como forma de recompor as forças da sigla. Deodato é apoiado pelo grupo da ex-prefeita Luizianne Lins, que comanda o partido na Capital há duas décadas. Com a posse de Acrísio, o grupo ficará fora da presidência em Fortaleza pela primeira vez desde o fim dos anos 90. Verdade que, na segunda metade do mandato, reassumirá o cargo até a eleição subsequente. No momento de crise pela qual a sigla passa, evitar divisões internas mais graves foi considerado prioridade.


PALANQUE DE LULA

Em conversa com Acrísio, Rui Falcão chegou a indagar sobre seu compromisso com o palanque de Luiz Inácio Lula da Silva para a eleição presidencial de 2018. Afinal, o discurso contrário a ele levado para a direção nacional apontava que o apoio ao ex-presidente estaria em risco com o enfraquecimento do grupo de Luizianne no Ceará. Isso porque as demais forças, reunidas em torno de Acrísio, são próximas ao grupo Ferreira Gomas. Que, por sua vez, pretende lançar Ciro Gomes a presidente em 2018. Porém, o vereador assegurou seu compromisso em apoiar Lula.

Não apenas isso: também ressaltou compromisso com a reeleição do governador Camilo Santana. Embora petista, o chefe do Poder Executivo estadual já manifestou apoio a Ciro como candidato. Como Acrísio e o PT irão conciliara situação será algo a se acompanhar. Afinal, nos bastidores, a própria permanência de Camilo no partido não é algo tratado com essas certezas todas.


RELAÇÃO COM A PREFEITURA

Do ponto de vista político, a mais significativa mudança representada pela substituição do grupo Luizianista por Acrísio (foto) é em relação ao prefeito Roberto Cláudio (PDT). Desde que o pedetista tomou posse, derrotando o PT, o partido faz oposição à gestão municipal. Mais ferrenha no primeiro mandato, verdade se diga. As circunstâncias nacionais aproximaram os partidos.

Nos primeiros quatro anos, não houve espaço para muita polêmica. Mas, desde o início do ano, há polêmica na bancada do partido sobre a posição de agora em diante. São dois vereadores: um deles, Guilherme, mantém oposição. O outro, justamente Acrísio, defende posição de independência. Até então, o grupo aliado a Guilherme estava no comando. Agora está Acrísio. O que isso vai mudar?


Talvez não muita coisa. Segundo o responsável por presidir o PT de Fortaleza na primeira metade do próximo mandato, ele afirmou à coluna que a posição em relação à administração Roberto Cláudio não é central para ele e os grupos que o apoiaram. A conferir como isso irá se dar na prática.


Até porque, diante do acordo, o grupo de Luizianne não chegou a conseguir uma vitória, mas evitou a derrota política. O partido saiu rachado da eleição municipal e a condução precisará ser pactuada nas duas metades do mandato dividido. Assim já começou a definição do resultado.

Érico Firmo

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