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VERSÃO IMPRESSA

O interrogatório do presidente que reforma o País

2017-05-31 01:30:00

O presidente Michel Temer (PMDB) discursou ontem para empresários no que esperava ser o marco do retorno do governo aos trilhos, um ensaio de recuperação para superar a crise que começou há 14 dias. Enfatizou a confiança em terminar o mandato. “Nós chegaremos ao fim de 2018 com a casa em ordem”. Destacou ainda que o assombroso escândalo em meio ao qual o presidente se vê envolvido não afetará o rumo do governo. “Esta trajetória que traçamos logo no início do nosso governo em diálogo permanente com o Congresso Nacional não será interrompida. Nela nós seguiremos firmes em nome da agenda de reformas que não podemos e não devemos abandonar”.


Isso foi na manhã de ontem. À tarde, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a Polícia Federal a interrogar Temer.


Dessa forma, esse presidente que irá depor na PF pretende continuar a conduzir o programa de reformas do Estado brasileiro.


Que reformas são necessárias não tenho dúvida. As estruturas da ordem pública estão podres, carcomidas, a desmoronar. Mas, com que autoridade governo comandado por essa gente vai estabelecer a nova configuração do poder e da economia no Brasil?


CADÊ AJUSTE?

Importante salientar que, enquanto fala em reformas, o governo não corta gastos, não faz ajuste coisa nenhuma e não consegue conter o rombo das contas públicas. No início do mês, o Tribunal de Contas da União (TCU) estimou que o déficit pode fechar o ano em R$ 185 bilhões, R$ 46 bilhões a mais que a estimativa do governo. Em 2016, ano em que Temer governou por sete meses e meio, o rombo foi de R$ 155,7 bilhões, maior da história até hoje. Em 2015, último ano em que Dilma Rousseff (PT) governou durante os 12 meses, o déficit havia fechado em R$ 111,2 bilhões, maior registrado até então.

 

PAPÉIS

Temer irá depois à Polícia Federal, subordinada ao Ministério da Justiça, cujo gestor o presidente trocou essa semana, no meio dessa crise toda.

CULPADOS

A propósito das reformas, está no ar campanha publicitária sobre a Previdência. Trabalha em dois polos: tranquilidade e terror. Por um lado, diz aos aposentados que o direito deles está assegurado e não será mexido. Por outro lado, diz que sem reforma, o governo pode ficar sem dinheiro para pagar aposentadorias. Cita como exemplo o problema do Rio de Janeiro, onde o problema já acontece.

O Rio tem dois ex-governadores presos em menos de 24 horas. Não me parece que a crise em que o Estado se enfiou - ou foi enfiado - seja culpa das aposentadorias.


Aliás, depois de tanta roubalheira do patrimônio público descoberta, ruim mesmo é ouvir que as contas governamentais estão quebradas por causa dos aposentados.


A CONFISSÃO DE MANTEGA

A confissão de Guido Mantega de manter conta não declarada de U$ 600 mil no Exterior é escandalosa por si. O cara comandava a Receita Federal e fazia esse tipo de artifício. Por qual razão escondia o patrimônio? Sonegação? Mais que isso?

Mais grave é pensar o que pode ter feito por governos tão enrolados em denúncias. As acusações de ter sido operador são muitas e ele nega todas. Mas, como pensar que alguém que fez das suas, conforme agora admite, não tinha conhecimento do esquema criminoso armado dentro do governo?


Dos 13 anos e meio de governos do PT, Mantega foi ministro da Fazenda durante nove. Foi o principal gestor da economia na era petista. Antes da Fazenda, comandou o Planejamento e o BNDES.


O ANTI-CID

O anúncio da candidatura de Cid Gomes (PDT) a senador em 2018 vai na contramão de uma das marcas do estilo do ex-governador fazer política. O hoje pedetista se caracterizou, no governo, por empurrar as decisões até o limite do prazo. Quando Roberto Cláudio (PDT) foi reeleito, há sete meses, Cid disse que concorrer não era seu plano. Agora, ele antecipa em mais de um ano a definição de que será candidato. Com isso, cria engessamento e tanto para as articulações políticas do ano que vem no Estado, algo que sempre procurou evitar. Isso num contexto no qual não se sabe se seu irmão, Ciro Gomes (PDT), será candidato a presidente, algo sempre tratado por Cid como prioridade em relação a seus próprios projetos.

O estranho movimento ocorre logo depois de as investigações da Lava Jato atingirem o governo Cid.

 

Érico Firmo

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