PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

O acerto de Camilo

2017-05-16 01:30:00

Ao divulgar o desastroso desempenho da segurança nos quatro primeiros meses de seu terceiro ano de mandato o governador Camilo Santana (PT) fez forte e relevante manifestação, na semana passada. Está certo ao cobrar do Governo Federal pela omissão na área da segurança pública. Ele está correto ao dizer que o problema não começou agora. Vem desde sempre e inclui os correligionários de Camilo, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff (ambos petistas). Pena que a cobrança mais efetiva não tenha vindo antes. Nem dele nem de outros governadores, aliados ou adversários. O problema é sério e não é possível solução estadual. Também na semana passada, o governador cearense articulou com outros gestores estaduais carta na qual cobra a União.


Os estados são grandes demais para lidar com alguns tipos de crime. Assaltos nas esquinas, crimes em paradas de ônibus. Para prevenir essas ocorrências, é imprescindível articulação com os municípios. Em cidade do porte de Fortaleza, é preciso envolver até as secretarias regionais. É preciso estar perto da população.


Para outros crimes, os estados são pequenos demais para lidar com desafios muito maiores. As organizações criminosas se articulam nacionalmente e mesmo fora do País, no caso do tráfico de drogas. São estruturas sofisticadas, mas simples. Organizadas em rede, capilarizadas. Enquanto isso, fica cada governo estadual na tentativa de resolver em seus presídios o problema que é muito maior. Não tem como dar certo.


Os governos federais se omitem por razões puramente políticas. Do meio para o fim do segundo governo Lula, até houve ensaio de iniciativa. Era o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). No início, houve alguns resultados positivos e também problemas vários. Como qualquer nova política pública, sobretudo quando numa área na qual o ente governamental não costuma agir. Mas, no geral, foi mais positivo que negativo. Porém, quando Dilma tomou posse, desidratou o Pronasci até o desaparecimento completo. Por que ela diz isso? Aliados que acompanharam o processo de perto explicam: o Governo Federal estava atraindo para si um problema que só representa desgastes. Normalmente, desgasta os governadores. Com a iniciativa, desgastava o Palácio do Planalto.


A postura é previsível e absurda. O problema existe e atinge os governos. Eles não resolvem e sabem que não podem resolver sozinhos. Porém, não tem para quem empurrar a solução. Os municípios deveriam participar, mas resistem a entrar para que não respingue neles. Em Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio (PDT) criou uma Secretaria da Segurança Cidadã, cujos resultados não são perceptíveis a olho nu. Com Moroni Torgan (DEM) como vice-prefeito na reeleição, veio a promessa de maior ênfase nesse campo. Até agora, nada.


O Governo Federal sabe que precisa participar para atenuar o problema. Porém, como irá sofrer ônus político, prefere deixar o País sangrar, literalmente, a perder votos. Lula demorou um mandato inteiro para tomar atitude. Pelo menos começou. Dilma acabou e Temer não dá sinais para além dos gestos em momento de comoção. O problema é antigo e não há perspectivas.


Talvez o melhor caminho seja o que Camilo adotou: tentar transferir ao Governo Federal um pouco, ao menos, do ônus. Não para se esquivar das inequívocas e enormes responsabilidades estaduais no problema. Afinal, até o ano passado o Governo Federal também não ajudava, mas o comando da segurança pública conseguia resultados positivos. Mas, para haver resultado estrutural, é preciso desestruturar as facções criminosas. Isso, definitivamente, não vai ser o governo estadual quem vai fazer. Nem governo nenhum. Cobrar, pressionar e desgastar o Governo Federal de plantão talvez seja a forma de mostrar que eles terão ônus a pagar de um jeito ou de outro. Melhor que seja na busca de soluções do que se omitindo.


O ERRO DE CAMILO

Na mesma manifestação na qual cobrou o Governo Federal, Camilo deu declaração profundamente infeliz. “São criminosos disputando área e se matando”. Não dá para simplificar dessa forma a explosão dos homicídios. Pode dar a entender que os mortos eram todos bandidos. Fica a subleitura de que não é tão ruim que tenham morrido. Na opinião de muita gente, é até bom.

O aumento da criminalidade em abril vai muito além de uma guerra entre facções. Alcançou, por exemplo, o designer Kildare Martins Rufino, esfaqueado na Praia de Iracema. Ocasionou a morte do cobrador de ônibus José Nunes de Sousa Neto, vítima do incêndio de um ônibus pelos grupos criminosos. Incluiu três policiais assassinados em um mês. Entre centenas de outros.


Um homicídio é um homicídio e é grave que tenha ocorrido. Mesmo que de quem cometeu crimes. Porém, o alcance do aumento da criminalidade é muito maior. Tragicamente.


ERREI

Por um lapso deste redator, o título da coluna de sábado saiu com erro de grafia. O correto era: “O que as delações provam”. Perdão pelo equívoco.

 

Érico Firmo

TAGS