PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

As explicações de Cid Gomes

2017-05-23 01:30:00

Cid Gomes (PDT) confirmou tudo que foi delatado contra ele, menos as motivações. Ocorreram reuniões, pedidos de dinheiro, liberação de crédito, doações de campanha. Dois secretários foram designados para pedir dinheiro à JBS. A divergência é sobre o motivo para tudo isso. Segundo o empresário Wesley Batista, houve pressão que condicionou a liberação dos recursos às doações de campanha. Cid diz que foi tudo dentro da lei. Isso considerando que a negociação era com a turma da JBS, cujos métodos agora são conhecidos.


O cronograma de pagamentos pesa contra o ex-governador, mas nem tudo bate 100% com o relato do delator. Não procede que não houve repasse em 2013. Foram liberados R$ 12,3 milhões. Porém, em 2014, o valor foi multiplicado oito vezes.


Não é caso simples e merece investigação. Ao decidir manter os secretários Arialdo Pinho e Antônio Balhmann (PDT), Camilo Santana (PT) leva para dentro de seu governo a confusão que começou no financiamento de sua campanha.


PENSAMENTOS SOLTOS SOBRE AS JUSTIFICATIVAS DE TEMER

A estratégia do presidente Michel Temer (PMDB) para justificar o batom em sua cueca foi atacar duramente o delator. Ele tem toda razão. Os donos da JBS se revelaram criminosos que se valiam da compra de políticos para serem beneficiados por tráfico de influência. Além disso, especularam com o vazamento da delação sobre o próprio crime. Compraram dólar às vésperas de a informação vir a público e tiveram ganhos que chegariam às centenas de milhões.

Ocorre que delação premiada em geral é feita por criminosos mesmo. É quem estava envolvido na bandalheira que entrega os comparsas. Se Temer quer desqualificar a delação pela conduta do delator, aí a Lava Jato toda seria inviabilizada.


Ou Alberto Youssef é algum sacristão? O Paulo Roberto Costa? O Nestor Cerveró? Desconheço delações feitas pelas carmelitas descalças. As principais revelações que desencadearam os escândalos revelados e a crise instaurada desde 2014 surgiram a partir de revelações feitas por… criminosos.


O presidente está certo quando reclama que Joesley Batista “não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido e, pelo jeito, não será”. É mesmo um absurdo. Mas, isso não livra Temer de rigorosamente nada.


PREVARICAÇÃO INCRÉDULA

Temer tem insistido que não tomou providências em relação ao rol de crimes que foi relatado a ele porque não acreditou no que foi dito. Isso não o isenta de tomar providências. Que se averiguasse. O que foi dito era grave demais para o encaminhamento ficar ao sabor de crenças ou descrenças. “Não há crime em ouvir reclamações”, disse no pronunciamento. Mas, ouvir crimes sem tomar atitude alguma é crime, sim senhor.

Temer, em dado momento, diz se tratar de um fanfarrão. A seguir, diz que Joesley foi autor do “crime perfeito”, enganando e roubando os brasileiros e se safando praticamente incólume. Não é coisa de quem não passa de um falastrão.


AS RAZÕES DA FANFARRONICE

Uma coisa eu definitivamente não entendo: por que cargas d’água alguém iria se vangloriar de crimes que teria cometido diante do presidente da República? Por que ele iria supor que Temer iria achar bonitos seus atos? Mais que isso: por que ele haveria de imaginar que o presidente não tomaria atitude alguma? Partiria ele da suposição de que Temer não iria acreditar? Assim sendo, sua fanfarronice seria inócua. Por outro lado, se imaginasse que o presidente daria crédito, por que não temeu ser denunciado? Teria motivo para crer na falta de atitude?

“ÓTIMO, ÓTIMO”

Na entrevista à Folha de S.Paulo, um dos melhores trechos é quando o presidente é questionado sobre por que disse “ótimo, ótimo” ao ouvir relato sobre compra de juízes. Ele disse não saber por que disse isso. Mais de uma década de escândalos ensinou que dizer não saber, fazer-se de doido, é a única resposta a certas perguntas.

 

SEM LÉ COM CRÉ

Nessa mesma resposta, Temer se enrola e diz um disparate. Afirma que recebeu o empresário porque achava que Joesley pretendia tratar da Carne Fraca. A conversa foi em 7 de março. A operação, no dia 17. Esse ponto é crucial, pois trata da motivação para o encontro, na calada da noite, fora da agenda oficial. Agora, Temer cita a Carne Fraca. Na mesma entrevista, disse que nem sabia que o empresário era investigado. A assessoria do Planalto disse que Temer se confundiu. Percebe-se.

 

Érico Firmo

TAGS