PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Ônus dos prefeitos

2017-04-06 01:30:00
NULL
NULL

O projeto aprovado na Câmara dos Deputados sobre aplicativos de transporte terá impacto particularmente relevante no debate político sobre o tema em Fortaleza. O prefeito Roberto Cláudio (PDT) tem, até aqui, evitado enfrentar o problema. Sob o argumento de falta de regulamentação, tem determinado a apreensão e multa aos motoristas do Uber. A gestão municipal tem adotado entendimento de que cabe à Câmara dos Deputados legislar sobre o tema. O projeto aprovado na Câmara dos Deputados é retrógrado, anacrônico, protege os interesses corporativos dos taxistas e contraria os interesses dos usuários. Mas, de toda maneira, joga para os municípios a responsabilidade sobre o assunto. É muito provável que haja mudanças no Senado. Mesmo assim, da forma como está, no mínimo o prefeito terá de tomar posição. É fato que, ao considerar o serviço ilegal e determinar a apreensão, Roberto Cláudio já tem feito isso. Escora-se, entretanto, no entendimento sobre a lei federal. Pelo que se encaminha, ainda que seja uma regulamentação absolutamente retrógrada, os municípios terão de assumir posição. Se quiserem impor obstáculos, terão de fazer isso explicitamente. O mesmo para liberar. Não dará para escamotear. A questão é particularmente sensível em Fortaleza, onde o prefeito tem os taxistas como relevante base eleitoral.


O RUMO DO PT

O PT caminha para renovar suas direções sem saber bem qual rumo tomar. A situação do partido é dramática e preocupa nomes históricos da legenda. Os petistas dispõem hoje de um e apenas um trunfo: a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva a presidente em 2018. Não é pouca coisa, mas é uma arma instável, incerta. E insuficiente para sustentar um partido que se pretende a maior organização de esquerda da América Latina. Cuja tábua de salvação reside em um ex-presidente que deve ser candidato pela sexta vez e que é réu em cinco processos.

A coluna conversou com um histórico e decepcionado, que observa com desalento os rumos da sigla. O PT se fez forte pelo enraizamento social. Isso não existe hoje. Não foi retomado, ao contrário do que possa parecer. Não há acompanhamento ou apoio técnico aos mandatos de prefeitos e governadores, as potenciais vitrines petistas. Observe-se o caso cearense, no qual o governador Camilo Santana adota políticas nem um pouco identificadas com o PT. Foi buscar seu gerente no PSDB - o secretário do Planejamento, Maia Júnior.


Em momento tão crítico, observa esse petista com quem a coluna conversou, seria momento de o partido se reencontrar com seus princípios e radicalizar posições. Pelo contrário, num governo gerenciado por um tucano, ninguém fala nada. Nem Luizianne Lins, que não é alinhada com o grupo do governo, manifesta-se a respeito.


Um dos motivos para a letargia geral petista, na opinião desse interlocutor da coluna, é bastante pragmático: faltam empregos para a militância. Durante 13 anos e meio de poder, os filiados dispuseram de muitos cargos. Houve uma geração de petistas que entrou no mercado de trabalho por meio de funções comissionadas federais. Outros tantos passaram a ter salário de nível do qual não dispunham antes. Na iniciativa privada, essas pessoas têm tido dificuldade de obter colocação similar. “Desaprenderam a procurar emprego”, resume esse petista.


Então, grande parte da disputa travada hoje pelas direções petistas representa a briga pelo que sobra do PT. Embate pelos resquícios da burocracia partidária. De modo que dificilmente, nesse quadro, alguém terá disposição para confrontar quem tem cargos a oferecer. É triste.

[FOTO1]

FALTA FORMULAÇÃO

A senadora Gleisi Hoffman (foto) foi escolhida pelo grupo hegemônico no PT como candidata a presidente nacional da legenda. Ela é investigada na Lava Jato. Antes de ela ser escolhida para concorrer, a ala que controla o partido cogitou lançar Márcio Macedo. Trata-se do atual tesoureiro do partido. Seria uma esquisitice só. Escolher como condutor nessa travessia um burocrata da máquina petista. Em momento no qual as contas de campanha estão no centro de escândalos de proporções avassaladoras.

A disputa, no fim das contas, deve ser travada entre Gleisi e o senador Lindbergh Farias. São, pelo menos, nomes políticos. Além de toda a crise ética, o PT se perdeu politicamente. Quando partido e governo se confundiram, deixaram de existir nomes que pensem a legenda. A renovação das direções poderia ser o espaço de reversão desse caminho. Dificilmente será.


 

Érico Firmo

TAGS