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O rumo da insegurança em Fortaleza

2017-04-15 01:30:00
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A semana política nacional, das mais tumultuadas dos últimos tempos, não deixou tempo para comentar antes assunto de extrema gravidade no plano local. Os números da violência em Fortaleza no mês de março são motivo para que o Governo do Estado acenda a luz amarela em relação ao rumo da segurança pública. Houve crescimento dos homicídios de 52% em relação ao mesmo período do ano passado. A meta era redução de 6%. O pouco ortodoxo trabalho do secretário André Costa está no começo e há de se dar tempo a ele. Porém, é o caso de se observar com atenção resultado a tal ponto ruim.


André Costa assumiu a Segurança Pública há três meses e, em todos, houve aumento dos homicídios na Capital. Não houve aumento em nenhum dos 12 meses do ano passado, ainda sob comando do discreto Delci Teixeira. Em janeiro, o crescimento foi de 26%, puxando o desempenho ruim do Estado inteiro. Em fevereiro, o Ceará registrou diminuição dos homicídios, mas a Capital apresentou alta de 5,9%.


A política do novo secretário está fracassando? É precipitado dizer. Porém, é fato que a sequência positiva foi quebrada. Foi muito difícil fazer com que os homicídios começassem a cair e não se pode colocar essa conquista a perder. Aliás, essa foi, de longe, a melhor coisa dos dois primeiros anos de Camilo Santana (PT). Os sinais agora apontam para retrocesso, ao menos na Capital. Três meses consecutivos de piora são pouco para julgamento mais conclusivo. Mas caso a tendência se mantenha em abril e maio, estará configurado quadro bastante sério.


A OFENSIVA CONTRA O CRIME

O Governo do Estado justifica o crescimento dos homicídios em março em função da ocupação de territórios onde há forte presença de organizações criminosas, como o Morro de Santiago (foto) e o Gueto. Bom, quando há operações policiais, o que se espera é que elas reduzam a criminalidade, não que aumentem. Porém, é compreensível que haja reação do crime diante da ofensiva das forças de segurança. Chegou a haver onda de violência em março, com ataques a unidades policiais e incêndio de ônibus. Ficou evidente a retaliação às operações.

Em outros estados, já houve espécies de pactos de convivência entre criminosos e policiais. Nunca foi boa política e não é caminho que a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) deva buscar. Longe disso. Tal tipo de política até reduz as ocorrências no curto prazo, mas tem como consequência o fortalecimento do crime, até mesmo a formação de um poder paralelo.


Nesse sentido, é bom e necessário que os criminosos do Ceará se sintam incomodados pela ação policial. É de se esperar que reajam. Há, todavia, ressalvas. Primeiro, a SSPDS nunca admitiu que os crimes tenham diminuído em função do pacto com ou entre criminosos. Efetivamente, houve pacificações entre facções criminosas no ano passado. A secretaria sempre negou que isso tivesse contribuído para reduzir homicídios. Então, em tese, os criminosos sempre estiveram aí fazendo o que se deve estar preparado para que façam, que é cometer crimes. O argumento do passado descredencia a justificativa do presente.

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O ESTILO DO SECRETÁRIO

André Costa rapidamente se tornou querido de seus comandados como há décadas não era nenhum de seus antecessores. Isso é importante para o sucesso do trabalho. Conseguiu se tornar referência perante os policiais, que confiam nele. Também se tornou popular perante a sociedade, como há décadas nenhum secretário era. Conseguiu isso com discurso fácil, apelativo, simplista, que ignora as causas reais da violência. Joga para a opinião pública a ideia de tratamento enérgico com os criminosos. Agrada à plateia.

Porém, do ponto de vista dos resultados, eles ainda não apareceram. Desde que ele chegou, Fortaleza ficou menos segura. Mais gente está sendo assassinada. Muito mais gente: 53 pessoas a mais em um só mês. É urgente que os resultados do espalhafatoso estilo do secretário comece a ser visto. É cedo, mas é assunto no qual cada dia de demora significa mais vidas perdidas.

 

Érico Firmo

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