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O mundo está menos seguro

2017-04-08 01:30:00
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Donald Trump ultrapassou a fronteira do bizarro e se tornou um perigo mundial. Obviamente, o regime sírio não é inocente. Crimes humanitários têm ocorrido há seis anos e a comunidade internacional tem sido incapaz de dar respostas. Trump agiu, isso é fato, mas bem ao seu estilo. De forma atabalhoada, com arroubos e sem ponderação. Ele é imprevisível, algo perigosíssimo para quem tanto poder nas mãos e explicita como nunca sua disposição para usá-lo. Há sérias dúvidas sobre o equilíbrio de Trump para lidar com a responsabilidade e as prerrogativas que tem nas mãos. O mundo está menos seguro e mais instável desde que ele tomou posse. A partir da noite de quinta-feira, houve escalada de alguns degraus.


Trump é caso sui generis e fora de padrões, mas não deixa de expressar pensamento político muito comum. Ele acredita e aposta em soluções simples, rápidas e enérgicas para questões complexas. Impossível resolver desse jeito. A tendência é apenas aumentar a confusão.


Visitei a fronteira entre a Síria e Israel em dezembro de 2014. O cenário é dramático, desolador. E muito mais complicado do que supunha a distância. Na ocasião, para mim ficou muito claro que a solução não será jamais a pretendida por um dos lados. A única chance de vir a haver paz será numa construção coletiva, na qual os vários lados aceitem ceder.


Ao mesmo tempo, presenciais exemplos surpreendentes da cooperação possível. Perto da fronteira, visitei o ZIV Medical Center, hospital que desde 2013 atende vítimas da guerra civil síria. No local, judeus, muçulmanos, cristãos e pessoas de outras etnias e religiões trabalham juntos no atendimento a pacientes de perfil igualmente diverso. A instituição recebe dinheiro do governo israelense, o que é motivo de polêmica. Há questionamentos sobre o apoio estatal a hospital que atende o povo de um país considerado inimigo. Não cabem simplismos ou opiniões apressadas em cenário tão delicado e perigoso.

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O ataque dos Estados Unidos ocorre em momento no qual os fatores de instabilidade mundial se multiplicam. Nesta mesma semana em que atacou a Síria, Trump fez ameaça à Coreia do Norte. No primeiro caso, abriu grave ponto de tensão com a Rússia. No segundo caso, lançou pressão sobre a China. É provavelmente o momento de maior animosidade entre as maiores potências bélicas do planeta desde o fim da Guerra Fria.


Ainda nesta semana, a Rússia e a Suécia foram alvos de ataques terroristas, este último ocorrido ontem.


CRISE DO MULTILATERALISMO

Isso num contexto em que a União Europeia está enfraquecida, com a saída do Reino Unido. A França terá eleição em breve e há fortes correntes que defendem a saída do bloco europeu. Alemanha também terá eleições, cujo resultado também guarda certas dúvidas. Isso tudo traz o cenário de um mundo mais fragmentado, com menos pontes e com tensão crescente. Nesse momento, Donald Trump se torna o maior líder mundial, com as primeiras mostras claras de que não terá pudor ou serenidade no uso do seu poder.

Tem tudo para acabar mal.


FRAGILIDADE DA ONU

As Nações Unidas, coitadas, saem desmoralizadas mais uma vez. Faz décadas que não conseguem se impor. Regimes de força a atropelam sem cerimônia e fica por isso mesmo.

A perspectiva de saídas multilaterais para problemas globais se enfraquece. Isso é perigoso. Os organismos do tipo são muito problemáticos e questionáveis. Pior, entretanto, é a ação unilateral ou a negociação bilateral entre forças profundamente desiguais.


BARRACAS DE PRAIA

Os argumentos a favor das barracas de praia também justificariam a manutenção da feira da José Avelino. Ambas geram emprego e movimentam a economia.

As barracas de praia representam ocupação desregrada em mais aspectos do que aparentam. São grandíssimas geradoras de lixo, destinado de forma irregular como regra.


Não por acaso, quando a Prefeitura iniciou novo formato de fiscalização do lixo em Fortaleza, começou pela Praia do Futuro, em 2015. Em um dia, foram R$ 30 mil em multas. de cada quatro barracas fiscalizadas, três estavam irregulares.

Érico Firmo

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