Entre hoje e amanhã, a comissão de recurso do PT nacional julgará a contestação apresentada sobre o resultado da eleição em Fortaleza. O vereador Acrísio Sena superou por três votos o ex-vereador Deodato Ramalho, este último candidato do grupo que há décadas comanda o partido na Capital, liderado pela deputada federal Luizianne Lins. Os apoiadores de Deodato apontam irregularidades em duas urnas, que não teriam ata de votação. Pediram, assim, que os votos de ambas fossem anulados. Isso daria a vitória ao ex-vereador. No âmbito estadual, o recurso foi rejeitado. Então, a questão foi levada ao âmbito nacional. A questão divide o partido em Fortaleza. Será difícil não deixar sequelas.

Acrísio relatou à coluna que Luizianne tem feito pressão sobre o presidente nacional do partido, Rui Falcão, e sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que as urnas tenham votos anulados. O argumento tem sido de que a mudança de comando do partido na Capital fortalece os aliados da família Ferreira Gomes no Estado e fragiliza o único contraponto existente no âmbito local. Dessa forma, colocaria em risco a formação de um palanque para Lula em Fortaleza em 2018, pois Ciro Gomes (PDT) é pré-candidato a presidente, com respaldo do governador Camilo Santana (PT).

Até pela correlação de forças, Acrísio acredita que sua vitória será confirmada. Dos oito membros da comissão nacional, cinco integram tendências que apoiaram Acrísio e três são de alas que estavam com Deodato. Ele afirma que, caso o resultado da eleição em Fortaleza seja alterado, isso caracterizará intervenção.

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CAMINHOS POSSÍVEIS

Atual presidente do PT municipal, candidato a presidente estadual e apoiador do Deodato, o deputado estadual Elmano de Freitas argumenta que o recurso foi apresentado oficialmente e estão acontecendo conversas institucionais com pessoas que participarão da decisão, com objetivo de apresentar a versão dos fatos. “É uma coisa óbvia. Acredito que eles (grupo de Acrísio) estejam fazendo o mesmo”. Na opinião de Elmano, a decisão nacional pode até não ser a anulação das urnas, conforme o pede o recurso, mas tampouco acredita que será mantido o resultado tal qual está. Ela acha que pode haver outra solução, sem querer especular sobre qual terceiro caminho seria esse.

 

O deputado destaca que, como estão sendo decididos recursos do Brasil inteiro, a comissão precisará guardar o mínimo de coerência. Não poderá acatar recurso de um lugar e rejeitar o de outro em igual situação. Por esse motivo, nem sempre a correlação de forças irá pesar, acredita.

INTERFERÊNCIAS EXTERNAS

Uma das acusações centrais a Acrísio é a de interferência externa na campanha do PT. O vereador informou que serão apresentadas à comissão nacional as pessoas que teriam feito essa interferência. Segundo ele, são pessoas que participaram dos oito anos de governo Luizianne e também da campanha de Elmano. “As forças estranhas só são estranhas quando decidem não mais apoiá-los”, critica Acrísio.

Elmano justifica que, na gestão Luizianne na Prefeitura de Fortaleza, havia participação de grande número de partidos. A participação dessas pessoas não implicava vinculação delas com o PT, entende ele. “O critério de participação na gestão Luizianne não cabe”. Ele afirma que essas pessoas até fizeram sua campanha para prefeito em 2012, dentro da mesma lógica de aliança ampla. Mas, descarta que tenham participado de sua campanha a presidente do PT na Capital, em 2013.

Muita coisa está em jogo nessa definição.

ELEIÇÕES E CRISE

O Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) promove amanhã seminário que discutirá as eleições de 2016 e também leituras sobre a crise. Às 9 horas, a primeira mesa tratará das últimas disputas municipais. Participarão os professores Rejane Vasconcelos de Carvalho (UFC), Cleyton Monte (FAC), Raulino Chaves (Urca), Monalisa Torres (doutoranda/UFC) e Paula Vieira (Fametro). Às 14 horas, a mesa sobre a crise, com os professores Monalisa Soares (Uece), Valmir Lopes (UFC), integrante do Conselho de Leitores do O POVO, Jawdat Abu El-haj (UFC), Pedro Gustavo (UFPE) e Estevão Arcanjo (UFC). O seminário será no auditório das Ciências Sociais da UFC, no campus do Benfica.