PUBLICIDADE
VERSÃO IMPRESSA

Mais difícil do que imaginaria

2017-03-02 01:30:00
NULL
NULL

O governo Michel Temer (PMDB) é tão forte no Congresso Nacional quanto é fraco na avaliação perante a opinião pública. Em geral, esse segundo fator acaba afetando o primeiro. Todavia, até agora, isso não ocorreu. Os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) sempre tiveram a estabilidade política atrelada à aprovação nas pesquisas de opinião. Quando a popularidade de Dilma começou a despencar, os votos para aprovar medidas no Congresso ficaram cada vez mais vinculados à distribuição de cargos. E, mesmo no auge da popularidade, Dilma nunca teve base realmente sólida, consistente. Essa fragilidade está entre as explicações para o impeachment. Faltou alicerce político, sem o que não se governa. A própria propaganda de Dilma dizia isso, para bater em Marina Silva (Rede).


Esse alicerce Temer possui de sobra. É aquilo que sustenta seu governo. O governo de Temer é originário do núcleo mais tradicional da política brasileira, de uma forma como talvez nenhum governo foi desde José Sarney (PMDB). Claro, a velhíssima guarda do poder esteve perto de todos os presidentes desde então. Mas, Temer os representa muito melhor que Fernando Collor - não fosse assim ele não teria sido derrubado -, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Lula e Dilma nem se fala.


Mesmo assim, há limite para a sustentação política de um governo tremendamente impopular. Agora, Temer se prepara para a votação de seu projeto mais importante: a reforma da Previdência. A proposta deve passar, mas dificilmente será do jeito que o governo quer. E não será tão fácil quanto se imagina.


RESISTÊNCIAS

Mudanças em regras para aposentadorias são sempre impopulares - porque elas sempre acontecem para pior. No mundo todo provocam protestos significativos. Governos populares perdem apoio. Quando o governo já é impopular, a coisa se complica bastante.

Não é fácil para os parlamentares bancarem a aprovação de um projeto tão antipático para a opinião pública, tocado por um governo profundamente rejeitado. Ano que vem tem eleição e as sequelas podem ser profundas. Por isso, na própria base governista, já se discutem mudanças significativas no projeto.

[FOTO1]

As possíveis mudanças ameaçam o coração da reforma. A Folha de S.Paulo mostrou ontem que 18 dos 36 integrantes da comissão especial que trata do assunto na Câmara são contrários à idade mínima de 65 anos. E 22 deles são contrários à regra única para homens e mulheres. Sobre a proposta de se trabalhar 49 anos para ter direito ao benefício integral, 25 são contra. A regra de transição para mulheres a partir de 45 anos e homens a partir de 50 sofre resistência de 26 deles.


E apenas um dos 36 deputados apoia a restrição no Benefício de Prestação Continuada: Darcísio Perondi (PMDB-RS), vice-líder do governo. Pago a idosos e deficientes pobres, o benefício seria desvinculado do salário mínimo e a idade mínima para receber passaria a 70 anos, pela proposta do governo. A falta de apoio não é de admirar: a mudança atinge basicamente as populações mais vulneráveis. É de uma crueldade difícil de compreender.


No total da reforma, 34 deputados da comissão consideram que são necessárias alterações na proposta do governo. Claro que haverá muita argumentação. O governo jogará pesado para convencer os parlamentares. No cenário de agora, todavia, é improvável que o governo alcance seu intento de ter a PEC aprovada sem mudanças. Para 21 deputados, as alterações seriam pontuais, mas há 12 deles favoráveis a modificações profundas - um disse estar em dúvida. Isso com base no levantamento da Folha.


Há resistências de todo lado, até no PMDB. “Não somos obrigados a fazer nada empurrado pelo governo goela abaixo”, disse Mauro Pereira (PMDB-RS). E também no PSDB: “A sensação, ao conversar com os colegas, é que muitos pontos têm que ser aprimorados ou revistos”, disse o tucano Eduardo Barbosa (MG).


RESISTÊNCIA ENTRE CEARENSES

Na sexta-feira passada, O POVO já havia mostrado que a bancada cearense em peso é contra a aprovação da reforma sem mudança. Foram ouvidos 17 dos 22 deputados e todos afirmaram que não votariam no texto do jeito como está. Leia mais sobre o assunto acessando este link: http://bit.ly/refprev

PRÓXIMOS PASSOS

Há quem considere que o governo apresentou projeto excessivamente duro já pensando em ceder e negociar alguns pontos. Haveria gordura para queimar. Premeditadamente ou não, será difícil que isso não ocorra. Por outro lado, a resistência que hoje se vê à PEC provavelmente será flexibilizada quando o governo entrar em campo e usar os métodos de praxe nesse tipo de articulação.

 

Érico Firmo

TAGS