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Mudança no jogo de 2018

2017-02-23 01:30:00
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A saída de José Serra do Itamaraty representa mudança importante nas articulações do PSDB para a sucessão presidencial de 2018. Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Serra são, há mais de uma década, as opções tucanas em todas as disputas presidenciais. Cada um foi derrotado uma vez. Prefeito de São Paulo, João Dória começou a surgir como alternativa de renovação. Do trio clássico, Aécio era o nome mais natural. Deixou de ser ao se tornar o tucano mais assíduo em delações na Lava Jato. O problema de saúde apontado por Serra como motivo para deixar o governo não o tira do páreo de 2018, de forma alguma. Mas, muda sua posição na disputa. Quem sabe, deixa-o até mais forte. Hoje, de todo modo, Alckmin desponta como principal alternativa no partido.


A indicação de Serra para ministro, em maio do ano passado, causou ciumeira no partido. Ele passou a ser a principal representação tucana no governo Michel Temer (PMDB). Quando a presença da sigla na administração se amplia exponencialmente, ele sai.


Os quatro meses para tratamento de coluna não parecem motivo para justificar a saída definitiva do cargo. Uma licença seria mais natural.


Fora do governo, ele perde a força de um cargo estratégico. Porém, também se distancia do desgaste de governo que tem aprovação de um a cada dez brasileiros. Entre perdas e ganhos, talvez seja mais vantajoso, para quem quer ser presidente pelo voto, estar longe de administração tão impopular.

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DIPLOMACIA

Na noite de ontem, as primeiras especulações sobre a substituição de Serra apontavam para o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) no Ministério das Relações Exteriores. Pelo histórico de brigas e confusões, é tudo menos diplomata. Talvez o mais célebre bate-boca no qual ele se envolveu tenha sido com Tasso Jereissati (PSDB), em 2001. O motivo era a ação de Aloysio nos bastidores contra o cearense, quando Tasso disputava com Serra a indicação para ser candidato a presidente pelo PSDB. Na época, Tasso disse a ele: “ O senhor, meu caro Aloysio, não venha aqui posar de estadista francês. Você não é”. Talvez Temer ache que ele cabe no papel de estadista. De embaixador, ao menos. Uma temeridade.

PARA DESATAR O NÓ DO SISTEMA PRISIONAL

A crise penitenciária periodicamente explode em crises como a que ocorreu no início do ano no Norte do País. A solução passa necessariamente pela revisão do mecanismo da prisão preventiva. Membro do Conselho Penitenciário do Ceará (Copen-CE), o advogado criminalista e professor universitário Nestor Santiago ministrou palestra, nesta terça-feira, em audiência pública na Câmara dos Deputados. Ele falou aos deputados e senadores que tratam a reforma do Código de Processo Penal (CPP). Santiago acredita que as prisões preventivas hoje são usadas muito além do necessário.

Há situações em que presos por furto ficam detidos preventivamente por período que vai além o da pena prevista para crimes desse tipo. Há também pessoas presas por tráfico, mas que deveriam ser enquadradas como usuárias. Tais distorções geram encarceramento em massa.


O advogado acredita que as novas definições que estão em debate para prisões preventivas permitirão começar a desafogar o sistema prisional.


QUEM ESTÁ PRESO

O problema do sistema prisional é questão para a qual pouquíssima gente dá atenção. Quase ninguém se importa. Para muitos, os detentos merecem mesmo passar por aquele sofrimento. Acham pouco. Não se dão conta de que o Estado acaba cometendo contra esses seres humanos - sim, não perdem tal condição, independentemente do que tenham feito - crime mais grave que aquele que motivou a detenção. A realidade de hoje é uma tragédia. O cerne passa pela prisão de gente que não precisaria estar presa. Passa pela enorme massa de encarcerados que não foram condenados. Em bom momento, o Tribunal de Justiça do Ceará iniciou projeto para decidir casos de detentos que aguardam julgamento.

Muita gente que ainda aguarda julgamento está junto de presos condenados e perigosos. Certa vez ouvi de um amigo: a pessoa pode até entrar inocente na cadeia, mas dificilmente um inocente sai de lá. Em organizações criminosas, para ascender a posições de mando, é necessário passar um tempo detido. As prisões são estágio para bandidos, escolas do crime. Muita gente não se importa com esse drama, mal sabendo que esse modelo alimenta a criminalidade aqui do lado de fora. Grande parte da solução possível está em rever esse modelo de prisão preventiva.

Érico Firmo

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