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Holofotes sobre Eunício

2017-02-02 01:30:00
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Érico Firmo

Jornalista, editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO

Eunício Oliveira (PMDB) chegou a uma das posições de maior poder, prestígio e risco da República. Já era o cearense com mais prestígio no governo Michel Temer (PMDB). Agora é um dos homens mais poderosos do País e, de longe, o político do Ceará com mais força política. Muitas possibilidades se abrem para ele a partir do cargo.


Nacionalmente, o senador cearense se torna peça crucial para o governo Michel Temer (PMDB), para a condução política da República. Torna-se personagem nas articulações cruciais, nas questões mais importantes. Depois de Temer, Eunício passa a ser o peemedebista com cargo mais importante.


No Ceará, o senador se fortalece na oposição ao governo Camilo Santana (PT) e ao grupo Ferreira Gomes. Tem em suas mãos uma máquina política poderosa, que lhe garante enorme visibilidade. Tem muitos cargos, orçamento generoso. E, principalmente, poder. O Congresso Nacional dita muito da agenda política. Um instrumento e tanto, inclusive, para arregimentar aliados de norte a sul do Estado. Foi candidato a governador em 2014 e tem sonho de ocupar o cargo. Caso dispute novamente em 2018, terá um trampolim estratégico.


Mas a visibilidade que é um trunfo também é um risco. Os comandos das casas no Congresso Nacional deixam o ocupante exposto. O último presidente eleito para a Câmara está preso. O antecessor de Eunício no Senado virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e saiu da cadeira impedido de exercer uma de suas prerrogativas - substituir o presidente da República.


Eunício já chega sob suspeitas. Há algumas menções a ele na Lava Jato. Segundo as informações que vazaram da delação premiada de Cláudio Melo Filho, o ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht disse que a construtora pagou R$ 7 milhões a parlamentares em troca da aprovação de medida provisória de interesse da empreiteira. Identificado na planilha com “Índio”, Eunício seria um dos beneficiários. Ele sempre negou ter recebido dinheiro para votar projetos no Congresso.


Também foi feita menção a Eunício na delação de Sergio Machado, cearense e ex-presidente da Transpetro. Conforme o relato, Machado teria intermediado doação de R$ 40 milhões da JBS para a bancada de senadores do PMDB. Eunício teria sido um dos favorecidos, conforme afirmou. Machado disse não saber se a empresa recebeu favores em troca da doação. Eunício, por sua vez, afirmou que nunca obteve recursos por esse meio.


As delações não são prova de coisa alguma. Precisam ser investigadas para que sejam confirmadas ou desmentidas. O fato é que pairam como sombra sobre o novo presidente do Senado. É o maior problema com que convive nesse início de presidência do Congresso.


Nesse sentido, a visibilidade e exposição extra podem ser problema. Espera-se que não, mas também podem ser um trunfo. Vale lembrar que, no ano passado, Calheiros e Cunha foram acusados de usar os cargos para interferirem nas investigações.

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A despeito de polêmicas, Eunício chega ao cargo com força. Em 2013 e 2015, em época de menos turbulência e polarização - antes do impeachment - Renan Calheiros foi eleito duas vezes com votações menores. Foram 56 votos em 2013 e 49 em 2015. O cearense teve 61. Foi habilidoso nas negociações. Num momento tumultuado como nunca na relação entre os partidos e apesar de denúncias e polêmicas, conseguiu apoio até do PT, a quem faz oposição firme no plano local. Sob todas as polêmicas, o trânsito em Brasília e a desenvoltura como negociador são suas grandes armas para comandar o Senado em momento tão delicado.


POBRE SUPERPOTÊNCIA

Donald Trump se reuniu com a indústria farmacêutica e disse que os outros países estão se aproveitando, tirando vantagem do que os gigantes dos fármacos criam. Por tirar vantagem entenda-se consumir os produtos deles. Ele cobra que os países contribuam com os custos de pesquisa e desenvolvimento - como se tais custos não fossem generosamente embutidos no preço cobrados por uma das indústrias mais predatórias do mundo.

Trump também cobrou do México uma relação mais justa com os Estados Unidos. Sim, ele falou que há assimetria na relação, e que é o México quem se beneficia.


O problema não é apenas o que Trump fala. Mais grave é que ele realmente acredita no que diz. Parece estar convicto de que o mundo explora os Estados Unidos. Dá até pena.

Adriano Nogueira

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