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A glória do obscurantismo

2017-01-21 01:30:00
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Érico Firmo

Jornalista, editor-executivo do núcleo de Cotidiano do O POVO

O jornalista escreve esta coluna de Terça a Sábado
ericofirmo@opovo.com.br

 

Donald Trump assumiu o posto de homem mais poderoso do planeta e montou equipe à sua imagem e semelhança. Isso é péssima notícia. Se o novo ocupante da Casa Branca já era má notícia, seus colaboradores confirmam o pesadelo. O que mais me surpreende nem são as posições políticas profundamente retrógradas pelas quais o povo dos Estados Unidos fez opção. O pensamento de Trump coincide com muito da cabeça do americano médio. Assim como não chegaria a ser a maior surpresa do mundo, para mim, se um Jair Bolsonaro da vida acabasse eleito presidente do Brasil. O Facebook está aí para mostrar que tem quem apoie, e não é pouca gente. O que me admira mesmo é que, em pleno século XXI, haja opção tão aberta pelo obscurantismo. Por teses que se pretendem polêmicas, mas são apenas estapafúrdias e sem base científica. Que haja concepções políticas equivocadas ao extremo é parte do jogo democrático. Mas, Trump (foto) montou sua equipe com a nata do pensamento obscurantista.

[FOTO1]

Para chefiar o comitê sobre vacinação e integridade científica, o novo presidente escolheu o líder do movimento antivacinação, Robert Kennedy Jr., que acredita na associação entre vacinas e o autismo. Coisa do tempo da Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, ou de pouco antes, quando Rodolfo Teófilo percorria o litoral oeste de Fortaleza na tentativa de convencer a população a aceitar ser vacinada contra a varíola. Mães corriam com filhos no colo, outros só aceitavam ser vacinados em troca de dinheiro.


Para o comando da área de meio ambiente, foi escolhido Scott Pruitt, que nega a existência de aquecimento global. Procurador-geral no estado americano que mais usa combustíveis fósseis, ele empreendeu batalha judicial contra as tentativas do governo de Barack Obama de regular as emissões gasosas e o consumo de petróleo. No embate entre meio ambiente e a indústria de combustíveis fósseis, ele ficava ao lado desta última. Agora, será responsável pela agência ambiental.


Claro, há muitas outras bizarrices: o secretário do Trabalho é contra o aumento do salário mínimo, contra pagamento de horas extras e a favor da retirada de direitos trabalhistas. Executivo de companhias de fast food, usa imagens de mulheres seminuas para vender hambúrgueres, assim como a indústria de bebidas faz no Brasil para vender cerveja.


Para o comando da educação pública dos Estados Unidos, foi escolhida milionária ativista da ideia de retirar dinheiro estatal da educação. Dedicada à filantropia, ela defende que o governo dê vales para as famílias pagarem escolas privadas para os filhos.


Na área de defesa nacional e relações internacionais, ingredientes são explosivos. O secretário da Defesa é linha dura, conhecido como “cachorro louco”. O diretor da CIA é defensor da coleta de dados em massa pela Agência de Segurança e opositor do fechamento de Guantánamo. O secretário da Justiça é radicalmente contra imigração e acusado de racismo. O estrategista chefe é defensor da supremacia branca.


Por mais que se discorde completamente da visão trabalhista, da política educacional, do perigo terrível da truculência como política externa, tudo isso está dentro daquilo que a democracia comporta. São confrontos entre visões de mundo, parte da política. O que realmente me espanta é ver em funções tão importantes adeptos da pseudociência, gente que ignora conhecimento consolidado em nome de crendices. Ser contra vacinas ou negar o impacto das emissões gasosas para o planeta não é ideologia, não é política. É obscurantismo mesmo.


Isso pode custar vidas. As políticas de imunizações são instrumentos para evitar milhões de mortes pelo mundo. O trabalho de sensibilização é ainda tarefa árdua. O tipo de superstição disseminada por alguém em cargo chave representa sério risco de retrocesso.


A CONDUÇÃO DA LAVA JATO DENTRO DO STF

Há apenas duas possibilidades de substituição do ministro Teori Zavascki como relator da Lava Jato. Uma hipótese é que o caso seja assumido por seu substituto, a ser escolhido pelo presidente Michel Temer (PMDB) e referendado pelo Senado, no qual mais de uma dezena de membros estão sob investigação. A outra hipótese, hoje mais provável, é de redistribuição. Isso deve ocorrer dentro da 2ª turma do Supremo Tribunal Federal (STF). As alternativas, assim, são: Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. É difícil que a relatoria não fique com um deles.

As decisões da 2ª turma na Lava Jato vinham se polarizando. De um lado estão Toffoli e Lewandowski, que costumam ser mais favoráveis aos réus. Do outro lado, Celso de Mello vinha ficando Zavascki. Mendes oscila. Em várias ocasiões se alinhou a Toffoli e Lewandowski, em favor da defesa dos acusados. A morte do relator mexe com esse jogo de poder.

 

Adriano Nogueira

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