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Luta ou luto
Foto de Pedro Salgueiro
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Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como

Luta ou luto


Aqui do meu cantinho no Território Livre da Gentilândia tenho acompanhado (não só acompanhado, mas arregaçado mangas) essa briga-de-foice-no-escuro que se tornou a eleição presidencial. Ano passado já havia prenúncio de batalhas territoriais no Benfica: um direitopata fora expulso do campus da UFC, porém foi aos arredores da Praça Portugal e arregimentou dezesseis bad-boys e armaram barricada na lendária esquina da 13 de Maio com Av. Universidade, muito barulho, ameaças, fervendo a boca-da-noite: felizmente a polícia chegou dispensando todos - ficou a promessa de novas contendas.

 

Com a proximidade da votação em 1º turno, novas refregas, agressões, camisas rasgadas, adesivos arrancados e carros amassados... Vez em quando passam arrepiando, agredindo "viados e pretos", chamando as meninas de "putas comunistas", com temerosas vaias e algumas pedradas respondem os acuados vermelhos. O dono da livraria atende ao telefone e treme com as ameaças: "Vamos queimar essa porra!... esse antro de comunistas!", no que gagueja mas responde o vende-livros: "Aqui no-nós vendemos de ke-Keyne a Smith, de Marx a Olavo de Carvalho ... Te-temos clientes de to-todos os partidos"... "Não queremos saber dessa porra não! Tenha cuidado seu filho da puta!"

 

Domingo passado, na volta de uma carreata, um grupo de "bombadinhos" rasgou os adesivos do para-brisa traseiro de uma senhora, balançou o carro como se fossem virá-lo e se afastou entre gritos e ranger de pneus... Outros motoristas em pânico buzinavam, subiam meio-fios! Mas às vezes as coisas se invertem: dia desses uma amiga policial, parou no sinal, atenta como sempre aos arredores, quando ouviu a buzina insistente no carro ao lado, onde um jovem gritava e gesticulava em sua direção, temerosa ela segurou com força a pistola que sempre trazia entre a coxa esquerda e o banco, tremendo baixou o vidro para escutar do desesperado rapaz que apontava para o adesivo em seu carro e gritava: "Tu vota ruim, né, sua puuuuta!"... No que o sangue lhe subiu à cabeça, arrancando com raiva a 4.0 e, mirando o agressor, disparou: "Mas atiro bem, seu abestaaaaado!"

 

Mas nem tudo é resolvido com tabefes, facas e balas nesse nosso querido bairro de esquerdopatas, fumaçopatas e cachaçopatas: num dos muros na rua-da-árvore aparece discreto por sobre o lixo um anacrônico poema-concreto intitulado LUTA OU LUTO:


LUTA LUTA LUTA LUTA

LUTA SE LUTO

LUTA SENÃO

LUTA-SE

LUTA

OU

LUTO

LUTA LUTO LUTA

 

Foto do Pedro Salgueiro

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