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Casos de Acasos
Foto de Pedro Salgueiro
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Escreveu livros de literatura fantástica e de contos, como

Casos de Acasos


Dia desses, ao acaso de reencontrar um antigo conhecido que há mais de vinte anos eu não via, me dei conta de que certos acontecimentos que se repetiam com frequência, como o “dar de cara” com certas pessoas, era para mim quase como se fosse um beber e comer e tomar banho maquinal e diário.


Pois bem, reencontrei o antigo amigo (amigo, não!, colega, pois titubeamos na lembrança do nome um do outro), nos cumprimentamos, perguntamos logo pelos velhos conhecidos comuns, notícias poucas, vagas, que a vida vai devagarzinho desfazendo os barbantes que movem (e aproximam) as marionetes do mundo.


Nesse tempo, sempre o nosso velho tempo de juventude, não éramos mais estudantes, morando em residência universitária, fechando avenida nas greves, protestando contra o fechamento do restaurante universitário. O acaso do encontro nos trouxe de volta a antigos pensamentos, velhos valores, novas emoções de estarmos já bem gastos. Eu percebi nele e ele deve ter percebido em mim. Calamo-nos como de praxe. Nos despedimos como se nos víssemos de novo no dia seguinte, na semana seguinte, no mês...


Duas semanas depois um colega comum, dos poucos que ainda dão um alô de vez em quando, liga pra me dizer do AVC do Ribamar, da
morte do Ribamar...


Passei a semana seguinte a pensar que o acaso não fora assim tão acaso, devia haver alguma mensagem nele... Mística, razoavelmente lúcida, com dúvidas fora a explicação não achada por mim.


Lamentamos os cigarros muitos do falecido. Sem sair da cabeça conto do triste caso do colega morto pra minha mãe e irmã, na calçada desta. Que surpresa me diz que meu antigo colega de universidade era (até duas semanas atrás) seu colega de escola, ensinavam juntos em salas vizinhas. O bendito do acaso mais uma vez brincava comigo (conosco!?).

 

Achando pouco, e já quase esquecido do caso (e do acaso), eu ia em viagem ajudando um amigo que fazia mudança para sua nova casa de praia e, no meio da conversa mole de já algumas cervejas, o motorista do caminhão perguntou pela violência em nosso bairro, que seu filho, que estava ali ouvindo e ajudando a contragosto, cara emburrada, havia sofrido uma sova da turma da “Favela da Brasília”, simplesmente por ter atravessado a 13 de Maio na direção do PV. Conversa vai, conversa vem, fiquei sabendo que o menino surrado era aluno de minha irmã e do colega morto de AVC.


Perguntei, tive as respostas e mudei logo de assunto. E vou aprendendo que nunca é bom a gente se acostumar com o acaso. Lembrei-me do tempo que impunemente vivíamos perseguindo coincidências, sentado com os amigos no Bar do Assis, ali na Gentilândia, conversando “miolo de pote” e olhando para o trevo da João Gentil com a Adolfo Herbster e esperando virem quatro carros (um de cada braço de rua) de todos os lados ao mesmo tempo.


E recordei o dia em que meus amigos Carlos Vazconcelos e Raymundo Netto me contaram que finalmente presenciaram o esperado “trevo de quatro ruas” do Benfica, então eu duvidei e ainda ri da lorota. Até me lembrar (e criar coragem de contar a eles) do maior acaso já acontecido por mim: em plena av. Domingos Olímpio, quase esquina com a rua da Assunção, um fusca vermelho batido na traseira de, pasmem!, outro fusca vermelho. Eles só não acreditaram como ainda hoje “tiram sarro” de minha cara com essa mentira (segundo eles) tão deslavada.

Foto do Pedro Salgueiro

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