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Quem conduz o jogo

2017-08-17 01:30:00
O PAPEL DO TÉCNICO

Aos poucos, diria que a passos de tartaruga, vamos admitindo a importância dos técnicos de futebol. Embora mais de uma centena deles já tenha sido demitido ou trocado de clube nesta temporada, a presença de Tite recuperando a seleção brasileira e as novas táticas sugerem reflexões.


A presença do técnico à frente de uma equipe não era considerada relevante. O torcedor escalava o seu time do goleiro ao ponta esquerda como se fosse uma poesia e nem citava o seu técnico. Até hoje corre o boato de que o técnico Vicente Feola, campeão do mundo em 1958, cochilava no banco.


Lula, técnico do Santos Futebol Clube, nunca foi objeto de atenção por parte da imprensa esportiva. Foi técnico por mais de 20 anos e nesse período o Santos encantou o mundo com o brilho do seu futebol, conquistando títulos regionais, nacionais, sul-americanos e mundiais.


Aliás, caro leitor, ao recordar o Santos sempre faço uma reverência e depois tiro o chapéu. Vi, claramente visto, Doval, Mengálvio, Coutinho, Joel, Haroldo, Lima, Djalma Dias, Pelé e Edu. Todos negros vestidos de branco da cabeça aos pés. Minto! As chuteiras eram pretas.


Tinha um sistema de jogo com quatro defensores, dois no meio do campo e quatro atacantes. E só! A palavra de ordem era manter a posse da bola e exibir a técnica refinada com seus jogadores imprevisíveis criando espaços vazios aproveitando eficientemente a liberdade para driblar e criar jogadas.


Hoje, com essas tendências universais e lineares que levam as equipes a jogarem quase todas do mesmo jeito, percebe-se o desprezo pela posse da bola, baseado numa aplicação tática em que todos os jogadores se colocam atrás da linha da bola esperando o erro adversário para iniciar um contra-ataque.


Isso sem falar nas jogadas exaustivamente ensaiadas, nas quais o jogo aéreo passou a ser decisivo. O locutor da sua televisão narra: “Falta perigosa contra a equipe X. Equipe Y é boa no jogo aéreo”. E tome uma bola alta levantada sobre a área. Dentro dela todo mundo se agarrando.


Com a individualidade e o drible relegados a um plano inferior, os técnicos crescem na defesa de suas táticas e suas estratégias. A grama alta favorece o drible? Os técnicos pedem para que cortem a grama rente e águam o gramado. Mesmo mudando de clube, os técnicos vão gradativamente implantando a sua maneira de conduzir o jogo.

 

Sérgio Redes

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