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Jornalismo em tempos de cólera
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Jornalismo em tempos de cólera


Tempos de tensão (também) política desencadeiam uma série de questionamentos à cobertura jornalística. Especialmente neste período de eleições, as atenções se voltam ao jornalismo. É hora de, ao tempo em que se tenta apresentar um debate útil e indispensável, experimentar ações a fim de serenizar conflitos, sem perder, contudo, o fio da informação.

 

Na última sexta-feira, O POVO publicou uma dessas tentativas. No Dia das Crianças, quando normalmente investe numa primeira página sobre o tema, voltada ao assunto mais lúdico, o jornal deixou a matéria de lado e preferiu explorar o apaziguamento. Com uma imagem de um coração costurado, sob o título "Não espalhe o ódio", o jornal trouxe a discussão acerca do diálogo em tempos de cólera.

 

Milhares de curtidas, muitos compartilhamentos nas redes sociais. A maioria dos comentários na postagem, entretanto, foi de encontro ao que propunha a capa. O ódio que tomou conta da campanha política invadiu as redes. Alguns internautas usaram a postagem para defender seus candidatos; outros viam notícia falsa na informação que não lhes agradava. É difícil, mas a tentativa não pode ser em vão. O jornalismo não deve sucumbir às reações adversas do que não se gosta. Insisto no papel social, na função formativa e informativa que a comunicação carrega.

 

Os tempos são desafiadores. Os ataques à imprensa e aos jornalistas assustam, mas não podem amedrontar. Criticar a mídia faz parte do jogo democrático, e é saudável que existam as críticas. Promover uma guerra e incitar agressões a quem quer que seja é um perigo. Silenciar não deve ser a resposta.

 

Eleições

Neste segundo turno, ainda há muito debate a ser feito no O POVO, muito assunto a ser esmiuçado. As propostas dos candidatos precisam ser mais bem discutidas pelo jornal. Não basta apenas um relato descritivo do que cada um propõe. É necessário que mostremos se as ações propostas são exequíveis e sustentáveis, a partir da análise de especialistas - sem paixões. O jornal é um mediador. Deve intermediar esse diálogo.

 

Como um jornal que tem circulação maciça no Ceará e no Nordeste, é preciso investir na cobertura da região. Qual é o peso do Nordeste na campanha dos dois candidatos à Presidência? O leitor daqui quer saber.

 

No domingo passado, dia das eleições, faltou mais serviço no O POVO. O hotsite eleicoes.opovo.com.br e o aplicativo Eleições O POVO exibiam dados acerca da apuração dos candidatos à medida que iam sendo divulgados pelos Tribunais. Informações extremamente relevantes, por certo, que iam sendo replicadas nas redes sociais e no portal. No Blog Política, as notícias eram atualizadas com frequência.

 

Mas o dia pedia mais. Havia muitas dúvidas. Do e-Título à biometria. Do número dos candidatos à seção de votação. Do que pode ao que não pode no dia da eleição. Da justificativa ao voto em trânsito. Da fraude à boca de urna. Todos esses assuntos poderiam estar em um suplemento impresso e nas plataformas digitais no O POVO. O leitor que quis saber procurou em outra fonte.

 

O WhatsApp, principal aplicativo de mensagens do País, utilizado por cerca de 120 milhões de brasileiros, foi ignorado pelo jornal. A lista de notícias não funcionou no domingo da votação.

 

Mal necessário

Por último, mas não menos importante: a prática constante da crítica no jornalismo (e da autocrítica - por que não?) não é agradável nem confortável. Há até quem questione sua utilidade e eficiência em períodos já tão marcados por uma audiência leiga partícipe de todo o processo. Se a crítica incomoda, perturbam, em maior intensidade, os equívocos e a maneira uníssona de atuar. Os elogios, já tão constantes nos meios, incentivam o porvir. As críticas apresentam outras formas de questionar, sugerindo mudanças e indicando reposicionamentos.

 

A avaliação no jornalismo, como ciência não exata que é, é marcada pela subjetividade, pois. No entanto, e sobretudo, assentada em um processo analítico e responsável. Se não funcionará como mediador para a correção dos erros que se apontam, como deveria ser, que se mostre uma janela de oportunidade para a reflexão do papel da imprensa.

 

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