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O candidato do jornal
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O candidato do jornal


A maioria dos grandes veículos de comunicação de massa no Brasil não adota explicitamente um posicionamento político. Em alguns casos pontuais, certas empresas usam seus editoriais para a manifestação de seus pensamentos e defesa de princípios. Casos isolados, ressalte-se, diferente do cenário norte-americano, por exemplo, em que esse posicionamento claro das empresas de comunicação já é comum.

 

Assim, não é habitual que os grupos de comunicação locais, cearenses, exponham visivelmente o apoio a candidatos políticos, especialmente em períodos eleitorais, como o que vivemos. Por vezes, somos questionados: já não é hora de isso acontecer? Não seria mais honesto com o leitor se o jornal se posicionasse a favor de determinado candidato, como acontecesse com veículos mundo afora, em regimes igualmente democráticos?

 

Por um lado, teríamos a nitidez de um manifesto editorial político e direto, de forma que o leitor já saberia qual linha aquele veículo estava a seguir. Cairia por terra qualquer tentativa de mascarar ou tentar agir de forma velada com matérias que tendessem a beneficiar um ou outro candidato. Seria uma relação mais cristalina e esclarecedora com o leitor. Por outro lado, dentre os vários riscos que essa expressão carrega, colocar-se-iam na esfera da desconfiança quaisquer matérias acerca do assunto política partidária. Que garantia teria o leitor de que aquele texto fora escrito de maneira objetiva, sem estar contaminado com a linha editorial adotada pelo jornal?

 

Se já vivêssemos em uma democracia já tão madura, seria mais fácil para empresa adotar tal iniciativa e para o leitor compreender a ação. Até lá, sigamos a acreditar no bom jornalismo e em seu ideal de imparcialidade.

 

E o do jornalista?

É por isso, pois, que, principalmente em tempos de eleição, os jornalistas de Redação são orientados, cada vez mais, a terem cuidado em não deixarem seus posicionamentos políticos influenciarem na escritura de suas matérias. Isso deveria ser básico - não permitir que minhas escolhas influenciem de alguma forma no texto público que estou relatando.

 

Em eleições passadas, O POVO emitiu um manual com regras e procedimentos que deveria ser seguido por todos os funcionários do Grupo. A normatização visaria, segundo o documento, preservar a isenção jornalística e assegurar a necessidade de serem guardadas as preferências políticas e partidárias de cada funcionário, longe de suas atividades profissionais.

 

Entre outras proibições, estava a participação em atos de campanha mesmo fora do horário de trabalho. Neste ano, não houve a divulgação de documento similar, mas na sexta-feira notas de repúdio contra "proibições" do O POVO chegaram às redes sociais. Alguns dos trechos dos documentos que foram enviados a mim: "Nós repudiamos com veemência a proibição, feita pelo Jornal O Povo, de que TODOS os seus jornalistas não participassem de ato público"; "Entendemos que a empresa vai diretamente de encontro ao artigo 5º da Constituição Federal, que garante, entre outros direitos, o direito à livre manifestação do pensamento".

 

Em nota, a Direção-Geral de Jornalismo comenta: "A orientação passada recomenda que os jornalistas preservem o espírito da cobertura do O POVO, pautado na independência e apartidarismo. Essa orientação vem desde 2004 e é sempre relembrada, especialmente em períodos de campanhas eleitorais. O POVO entende que o jornalista não deixa de sê-lo mesmo em momentos de lazer ou folga. Não se trata de cercear a liberdade de expressão, garantia constitucional conquistada desde 1988. Ao contrário: por reafirmá-la, não abrimos mão da capacidade de interlocução isenta que devemos ter com todos os agentes públicos, políticos, econômicos e sociais. Tanto que opiniões de jornalistas da casa com críticas a candidatos A, B ou C são publicadas com regularidade nos espaços adequados: página de opinião e pontos de vista. Aqui seguimos fazendo o que sempre fizemos - jornalismo".

 

O POVO não fala em proibição, menciona orientação. Não houve, é certo, comunicado escrito, mas uma conversa entre editores e repórteres. O direito à participação em atos públicos e à manifestação de seus pensamentos cabe a qualquer pessoa, jornalista ou não. O que fará a diferença é como o profissional usará dessa expressão em seu ofício. Bom senso e equilíbrio continuam sendo o motor em tempos já tão marcados por intolerâncias.

 

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