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Candidatura sem o candidato
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Candidatura sem o candidato

Com a intensificação da cobertura política neste período eleitoral, matérias que envolvam um ou outro candidato são frequentemente mais lidas e analisadas. Qualquer imprecisão ou omissão será, e tem sido, motivo para que suspeitas acerca da credibilidade jornalística sejam levantadas.

Na edição da última segunda-feira, 30/7, O POVO trouxe em chamada na primeira página, com foto, uma declaração do senador Tasso Jereissati sobre a segurança pública do Estado. Sabe-se que o político é uma das principais lideranças nacionais e um dos nomes fortes de seu partido, e da oposição, e a chamada é sempre interessante para a audiência do jornal.

A matéria foi feita a partir da convenção tucana, que oficializou o candidato do PSDB ao Governo do Estado. No texto, só havia menção ao candidato. Nenhuma declaração dele, nenhuma foto, nada de frases em toda a cobertura. Os demais textos tinham como mote o senador Tasso, com enorme foto rasgada na página e frase em destaque. E o candidato onde estava?

Leitores reclamaram com a Redação e com a ombudsman. "Essa matéria só dá Tasso! General passou em branco. O candidato não é o general?", queixou-se um leitor. Depois que comentei o assunto na avaliação interna, a editoria reconheceu o equívoco e publicou matéria com o candidato no Blog Política.

Cobrir um evento não significa estar preso à sua factualidade. Declarações e fatos envolvendo outras pessoas, que não a figura principal do ato, podem ser até mais relevantes do que o evento do ponto de vista jornalístico. O repórter deve estar atento para perceber isso. A abordagem, contudo, exige de nós, jornalistas, cada vez mais atenção na cobertura política. Equilíbrio nunca é demais.
 
Erros repetidos

Chega a ser vexatório comentar sobre isso, mas, a cada edição e a cada postagem, mais erros de português engrossam a lista dos equívocos que cometemos. Não são poucos os leitores que se debruçam sobre a leitura e entram em contato, todos os dias, para apontar as incongruências. Na semana que passou, um deles anotou: "Os jornais estão repletos de toda sorte de erros, principalmente erros graves de português! Seria fazer um mal terrível aos alunos usar os jornais como instrumento de ensino".

Ele se referia a um texto opinativo que abordava o uso do jornal na sala de aula. É válido lembrar que a promoção da educação é um dos objetivos do O POVO, que tem, a propósito, um programa destinado ao fomento da relação jornal e educação. Dia desses, outro leitor, também assíduo no contato com a ombudsman, comentou que é surpreendido a cada vez que vê os erros se repetirem. Essa história de cometer erros novos é sempre lembrada quando se percebe que os erros - pasmem! - se repetem com uma constância inacreditável.

Demoramos, muitas vezes, a retificar os erros e a internalizar a forma correta a ser empregada. Em alguns casos, porque a rotatividade dos profissionais da Redação é alta e nem todos têm tempo suficiente para se reeducar. Quando se percebe, a equipe já mudou. Em outros casos, é desatenção mesmo. Descuido com o próprio texto. Nem errata se publica quando um erro é observado no meio do texto. Talvez mereça a correção em um "Erramos" quando o equívoco tem o privilégio de ter sido anotado no título, a vitrine da matéria.

São muitos os leitores que questionam acerca da existência do revisor de textos na Redação do jornal. Não, não existe mais. Alguns cadernos e obras complementares ganham uma revisão específica por se tratar de um investimento à parte - muitas vezes patrocinado a partir de alguma parceria firmada com outras instituições. No entanto, no dia a dia da Redação, o revisor não existe mais. Há tempos os jornais locais deixaram-no de lado.

Um bom jornalismo, então, se faz com a ausência total dos erros de português? Não só, mas também. É nítido que a qualidade da informação é medida pelo conteúdo que é apresentado, pela força do material que é entregue ao leitor. Não se trata de hierarquizar as falhas. Um erro de informação, por vezes, põe em risco a integridade de alguém, e isso é indiscutível. Entretanto, entregar um conteúdo com deslizes que atrapalham e travam a leitura demonstra uma terrível e inexplicável falta de zelo, interesse e rigor com aquilo que é a matéria-prima do nosso trabalho - a palavra. E isso não é educação.

Por Daniela Nogueira
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