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Quando não se checam os dados
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Quando não se checam os dados

 
Checar a informação antes de publicá-la é uma das primeiras lições estudadas no jornalismo. A outra é consultar as fontes certas. Saber a quem perguntar, onde obter determinadas informações, de onde extrair certos dados necessários à matéria. Vez por outra, os jornalistas se esquecem dessas regras tão simples quanto necessárias e fazem com que um trabalho de credibilidade esteja envolto em especulações e questionamentos múltiplos e evitáveis.


Foi o que ocorreu com a matéria “À espera de nomeação” (4/6/2018), publicada no caderno POP Empregos & Carreiras, suplemento semanal que circula às segundas. Tema da capa do caderno, a matéria ocupou duas páginas, contando história de gente que fora aprovada, mas não convocada ainda para assumir seus cargos.

Informava dicas para aprovação e apresentava um quadro com uma lista de concursos estaduais, listando as vagas, o número de aprovados e o número de nomeados de cada uma das quatro seleções, em diversos cargos.


Quando o jornal chegou às ruas e às telas, um grupo em especial percebeu um equívoco. Ao informar o número de vagas para “Analista judiciária” (sic) – Área judiciária (bacharel em Direito), O POVO publicou: Vagas: 50. Aprovados: 320. Nomeados: 320. O detalhe é que foram nomeados 116 aprovados – 110 da ampla concorrência e até a posição nº 6 das vagas reservadas para pessoas com deficiência, conforme o Tribunal de Justiça do Estado do Ceará (TJCE) confirmou posteriormente.  

 

Fonte segura?


A fonte de onde extraímos o dado é um curso que oferece aulas de preparação para seleções e concursos. Não deveria ser a fonte principal. Para verificar esses dados com precisão, deveríamos ter recorrido ao que chamamos de fonte oficial. A própria instituição que nomeia os aprovados e para o qual eles prestaram o concurso deveria ter sido procurada. Antes – para obter a informação. Não depois – para corrigi-la.

Não foram poucas as reclamações sobre esse erro aparentemente simples. “Notícias assim enganam o povo”, disse uma leitora, aprovada no concurso citado e não nomeada. “A gente queria era a imprensa para veicular o nosso pleito, não para mostrar informação errada”, queixou-se outra. “Estranho o jornal não verificar. O jornalismo deveria ir atrás de fonte oficial, não de cursinho”, afirmou outro leitor. Após os protestos, a matéria foi atualizada no O POVO Online. Aí, sim, o Tribunal de Justiça foi procurado e informou o número de nomeados.

A Comissão de Aprovados TJCE 2014 me enviou uma nota de esclarecimento de duas páginas, em que detalha as condições do concurso, ressalta a “patente necessidade de um incremento nos recursos humanos do Judiciário cearense” e manifesta o desejo da convocação dos demais aprovados. Em relação ao número de aprovados para o cargo, a Comissão destaca que, embora tenham sido chamados os aprovados até a 110ª posição, apenas 56 estão em efetivo exercício. Houve 54 desistências e/ou exonerações. Não publicamos isso.

Paula Lima, editora-executiva do Núcleo de Negócios do O POVO, explica que informações relativas aos concursos são pedidas, com frequência, ao cursinho porque “eles estão constantemente atualizando os dados”. Afirma que nunca havia ocorrido problema com dados de editais e vagas. “Foi realmente uma falha nossa não checar os números enviados por eles com os órgãos oficiais.

Retificamos a informação no mesmo dia em que percebemos o erro no Online, com a observação de que a matéria foi alterada, e publicaremos Erramos na edição de segunda. Em decorrência do alto interesse dos leitores sobre o tema, estamos preparando uma matéria dando voz aos candidatos aprovados que aguardam a nomeação do concurso do TJCE”, comenta.

Com o excesso de informações que se tem hoje, promover o confrontamento das versões, dos números, das histórias é essencial.

Priorizar a veracidade das informações deve ser o princípio basilar de uma notícia de qualidade. Às vezes, divulgar uma informação falsa é tão somente uma falha ínfima no trabalho que deveria ser minucioso na apuração. Às vezes, desqualifica o jornalismo e a instituição que o veicula.  

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