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"Efeitos dos protestos"
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"Efeitos dos protestos"

 

Daniela Nogueira

 

Participar da cobertura de protestos sempre é uma prática desafiadora na atividade jornalística. Ultimamente, em especial. Na semana que passou, as manifestações dos caminhoneiros tomaram o País por vários dias. Até a sexta-feira, 25, dia em que preciso entregar este texto, as paralisações ainda ocorriam pelas rodovias que cortam o País e foram tema de manchete nos principais jornais brasileiros.

Noticiar fatos que envolvem protestos requer muito mais equilíbrio. Se qualquer escolha já não é imparcial, a seleção das palavras, do foco das matérias e das fontes envolvidas em casos assim pode dar margem a interpretações que põem todo um esforço jornalístico em questionamento. Na sexta-feira, um dia após o Governo anunciar que havia feito um acordo com a categoria, boa parte da imprensa noticiou que a greve estaria suspensa. Não foi o que se viu (e viveu) Brasil adentro.

Os dois maiores jornais cearenses apresentaram o assunto em suas capas. O Diário do Nordeste expôs, na metade da primeira página: “Greve dos caminhoneiros. Governo anuncia trégua”. O POVO manchetou: “Crise dos combustíveis. Pressionado, Temer anuncia acordo”. Em capa temática, com uma impressionante foto vertical de autoria de Fábio Lima tomando toda a página, o jornal anotava logo abaixo: “Efeitos dos protestos – Alimentos mais caros, escassez nos postos, bloqueio e tensão no trânsito, voos restritos e cancelados”. Uma série de pontos negativos associando-os diretamente aos protestos e dando às manifestações uma imagem desfavorável. A reação não poderia ser outra – vários comentários contrários aos dizeres.

 

Reação

“Efeitos do protesto? Que manchete mais tendenciosa, amigos! Não seria mais correto dizer que são efeitos causados pela corrupção?”, escreveu Marcos Martins. Saulo Lima observou: “O jornal quer colocá-los de vilões”. Suzanne Cordeiro opinou: “Para de querer colocar a população contra os caminhoneiros! A culpa é desse governo medíocre que (...) quer que a gente pague a conta!” Madu Gomes também comentou: “Querendo colocar o povo contra os manifestantes”.

As consequências das paralisações foram sentidas pela população ao longo da semana. Talvez tenham atingido seu ápice de quinta para sexta-feira. Ora, o devido cuidado, em momentos assim, deve ser extremo porque sempre há o risco de se assumir o discurso de um dos lados, de pender para onde quer que seja. Princípios e valores pessoais não podem e não devem se misturar ao discurso jornalístico. É uma lição primeira.

Ao listarmos como “efeitos do protesto” tão somente os atos negativos sentidos e vividos pela população, na capa do jornal, estampou-se na página que é vitrine de qualquer veículo impresso um caráter de rejeição às manifestações. É óbvio que nenhum desses atos tem conotação positiva. É certo que todos eles foram vividos, parcial ou totalmente, durante as manifestações. Mas começaram com os protestos? Foram consequências diretas dos protestos? Foi essa a interpretação a que deu margem.

O POVO, ao prezar pelo rigor jornalístico e pela busca constante da igualdade, deveria ter exposto, para fins de equilíbrio, também o que teria levado ao caos a que se chegou. Não se pode negar que a cobertura dos dias anteriores, no impresso e no online, tem sido robusta. Na sexta-feira, o jornal impresso apresentou um investimento maciço de reportagem com matérias bem elaboradas, analíticas, com fontes diversificadas e pontos de vista, além de o assunto ter sido abordado em editorial dias antes. O portal e as redes sociais têm acompanhado bem a temática, com informações atualizadas frequentemente, como tem de ser.

 

Também por isso a atenção deve ser uma ferramenta incessante a fim de não arrefecermos no alicerce do espírito crítico e independente no qual o jornal está firmado.

O legado de Dines

Um dos nomes mais expressivos do jornalismo brasileiro, Alberto Dines, morreu na terça-feira. No meio do generoso legado de Dines, está o espírito crítico e questionador que ele ajudou a fundar e formar no País. A preocupação com a pluralidade de ideias e com um Jornalismo verdade são valores que se relacionam intrinsecamente ao pensamento responsável de Alberto Dines. Muito já se falou dele. Que tenhamos aprendido pelo menos parte do que ele deixou.

 

 

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